3 de junho de 2010

Amigos


Ainda cedo, antes de começar o turno, estávamos discutindo a proporção de carros de luxo para uma população elitizada em São Paulo.

Um de meus amigos chegou a conclusão estranha de que Porcshe Cayenne é um carro quase popular, fácil de se ver nas ruas, ainda que possuído por poucos, enquanto existe uma dificuldade maior em ver Ferraris de fato correndo pelas ruas a fora.

Eu e outro amigo ficamos indignados ao ouvir tal comentário, pois é como ir tentar uma carta de motorista e ter um Cayenne como carro na prova de direção.

O fato é que o rapaz em questão é um bom amigo, daqueles de dar muita risada em qualquer lugar devido a qualquer comentário, seja ele plausível ou não.

Estou a dois anos e meio na mesma empresa, e os que vivem nesse meio de alimentos e bebidas sabe que a rotatividade é grande por motivos variados, desde desligamento da empresa a demissão.

Esse mesmo camarada, horas mais tarde foi desligado da empresa, demitido.

Nesses dois anos e meio vi amigos indo embora por vontade própria e por comando da empresa, e no começo até tinha palavras solidarias para dizer.

Hoje me vejo perdido, sem saber o que fazer ou o que dizer.

Não sabia onde enfiar a cara, se abraçava e desejava boa sorte ou se simplesmente ignorava como se nada estivesse acontecendo.

Isso machuca de uma forma inigualável, e quem já viveu esse momento sabe pelo que eu passei e ainda ei de passar.

Quem trabalha nesse meio sabe que sair de férias é correr o risco de voltar e encontrar uma equipe completamente nova onde antes havia pessoas conhecidas, ou na pior das hipóteses, chegar no primeiro dia e trabalho e já ter uma conversa com o RH referente a seu ultimo dia de trabalho na empresa.

Esse é um problema que não tenho como revidar, esquecer ou tentar deixar de lado.

Por mais que exista a vida profissional e como suas atitudes frente a um cargo vão refletir na aceitação da sua equipe (e de seus superiores principalmente), os vínculos de amizade que você mantém ainda são fortes o bastante para te fazer sentir falta de alguém, por pior que ela executasse sua obrigação.

Agora elevo isso a algo maior.

Imagine que a pessoa em questão não trabalha a seu lado, mas sim é alguém muito querido que você pouco vê nesse momento da vida, mas que a algum tempo atrás foi de extrema importância.

Como você ficaria tendo de ver essa pessoa partir, ou simplesmente brava com você por algo inútil? Por algo sem a menor razão?

Passei por poucas e boas até aqui e sei o valor de cada amigo meu, correndo o risco de cair no cliche de falar que posso contar nos dedos. Ver um deles passando necessidades ou qualquer outro tipo de problema me deixa em estado de alerta.

Quando vejo que participei para que tal amigo estivesse nesse estado, a coisa piora, por mais que eu não tenha sido o problema maior, mas sim o gatilho para a explosão.

Meu defeito (ou qualidade, não sei) é me importar demais com as pessoas, e pagarei por isso sempre.

Chorei ao ver um amigo partir no trabalho, pela segunda vez, e sei que ainda vou chorar a partida de outros... e a minha talvez. E me angustia saber que o estado atual de um grande amigo é devido ao fato de que eu fui o gatilho para tal sentimento.

O mais engraçado, que conste como uma piada momentânea, é que ao sair do trabalho, as duas e pouco da madrugada, vi um Porsche Cayenne passar pela rua...

2 comentários:

Ana P. disse...

Menino, faz tempo que eu num passo aqui.

Tô pra dizer que as relações de amizade talvez sejam as mais complexas da humanidade, e mesmo assim, as mais simples. Porque não exige muita explicação, sabe?

E aí que você vê um amigo se fudendo e não sabe o que fazer, ou pior ainda, não pode fazer nada, e o que você faz?

O QUE VOCÊ FAZ??? O QUE? FAZER O QUE??

Geralmente deixar explícito o sentimento de "estou aqui por você" é muito, mas muito confortante. Pra você e pra ele.

Jaque disse...

Poxa me vi nesse seu texto ...fiquei emocionada...Saudades viu ?