22 de janeiro de 2012

Seu Oswaldo: A Virada

Para tudo e todos existe um tempo mínimo para que a responsabilidade por seus atos pese sobre os ombros. Para alguns leva muito tempo, para outros um pouco menos, mas a verdade é que mais dia menos dia isso acontecerá, e com o Oswaldo não foi diferente.

Aquela vida de boteco, de cervejas e cachaça, de putas e farras, toda aquela bagunça teria de acabar, e veio tudo isso com a morte de sua mãe.

Recebia mesada semanal para ficar fora de casa o dia todo, e a velha senhora até gostava de ver o rebento voltar manguaçado pra casa. Assim não perceberia que o pseudo-namorado de uma noite não era bem o mesmo da noite seguinte, nem da seguinte, nem da seguinte, e assim por diante. Filho sóbrio dava problema, mas o câncer não tratado deu mais problema ainda, e a morte súbita da mamãe trouxe uma série de contas a pagar e dividas nunca conhecidas. Era estranho para ele ver que sua mãe tinha recibos de cartão de débito dos mesmos lugares que ele frequentava, e ele sabia que o “comércio de lanches Ltda” não era o que parecia.

Ali então estava a verdade.

Vinte e oito anos, solteiro, mãe morta, fonte de renda esgotada, alcoólatra e tarado, enfim, na merda.

A vida tem um sentido estranho quando da na nossa cara, mesmo que seja sem deixar a pessoa louca a ponto de se matar. A vida da uma saída para melhor e para pior, mas nesse caso o Oswaldo deu sorte.

Um dos amigos de bar, daqueles para os quais o Oswaldo servia as geladas, se importou com a situação precária do mascote e resolveu ajudar como podia. Gastou ali um dinheiro com terno e gravata, e um pouco mais com o Antonio da barbearia e deu um visual mais decente pro Oswaldo. Levou o amargurado a uma entrevista arranjada na redação do jornal, inventou mundos e fundos de dar medo, encheu a bola do Oswaldo a ponto do vagabundo beberrão virar um excelente digitador, e foi assim, sem perceber, que o Oswaldo foi parar na redação do jornal, com sala própria e mesa de mogno, uma maquina de escrever e o desafio de escrever o obtuário do periódico.

E no desenrolar da história toda, em meio a toda a vontade de uma boa cachaça e foder aquela prostituta das antigas, o Oswaldo teve um lampejo, uma visão do que seria sua vida dali pra frente, e tomou a atitude mais honrosa que um homem em seu lugar tomaria.

Saiu da entrevista, sentou no bar mais próximo, pediu sua cachaça com gelo e limão e pensou: Agora fodeu.