30 de abril de 2008

Existe vida lá fora...

Essa foi a conclusão que tive após os últimos dias.
pode parecer algo simples, algo lógico, e alguns podem até mesmo encarar isso como uma afirmação ridícula, mas, se pararmos pra pensar, o que estamos fazendo desses momentos aos quais damos o nome de vida? Será que damos atenção as coisas realmente primordiais? Ou será que estamos apenas sobrevivendo?
A muito tempo atrás, em uma conversa agradável que tive com meu grande amigo e irmão (ao qual tenho prazer de dividir apartamento), chegamos ao ponto de reconhecer que o ser humano está tão acostumado em viver sua vida de forma a apenas reagir ao mundo e suas mudanças, e que tudo parecia um grande circulo, ou uma fileira de dominó que cai e vai derrubando os outros. Um mundo feito de reações.
E, porque diabos, nos sujeitamos a isso? Porque não tomamos nossas próprias atitudes? Porque não pegamos o rumo da ação?
Então, por dias seguidos me enfiei em uma busca frenética por ações que eu poderia tomar para ter pleno controle de minha vida, e o que tive, bem, foi simplesmente o inverso do que eu queria.
Me vi preso a um sistema besta onde trabalhava para ganhar dinheiro, para gastar, para ter de ganhar mais dinheiro trabalhando. Essa era a minha vida.
Mas agora, dias depois de enfrentar demônios todos os dias de uma vez só, resolvi enfrenta-los um de cada vez, começando por mim mesmo, ou o demônio em pessoa, e aniquilei varias coisas que não gostava em mim mesmo.
As pessoas acreditam que ninguém pode mudar a forma como somos, mas eu acredito que, se não podemos mudar, pelo menos podemos aprender o que é correto, ou pelo menos formas melhores de sermos quem nós somos de verdade. E assim tem sido.
Portando, após esses dias de fúria, dias vermelhos, dias de glória, sinto que é chegado o momento de "fechar para balanço" um pouco mais e terminar com os aprendizados que me surgem nesse caminho.
Me perdi na minha própria essência? Talvez... Mas agora tenho de me encontrar de verdade, descobrir quem eu sou e voltar para meu caminho de honra e glória. pois como diria Cassia Eller, "Eu quero marcar/ Minha existência/ Não posso parar/ Não posso parar"
Agora sei que tenho vida, então, o que vou fazer agora?

16 de abril de 2008

Distúrbio do Sono


Mais café, por favor
Tenho de me manter acordado
Mesmo que perdido em sonhos
Em minha doce realidade

Mais um sol a se por
E tudo parece tão igual
A tarde se esvai
E permaneço sobre o tempo

Mais uma alma chegou
As vésperas da ira divina
O que fazer
Não existe um ponto de fuga

Busca
Canta aos pássaros no céu
Inventa novas palavras
Marca seu caminho

A vida não tem sentido
Não pode ser pura obra do destino
Tudo se move ao acaso
É o que se quer ser

Contempla a brisa
Deixe que leve teus pensamentos
Permaneça vagando
Ao sabor da maresia

Mais fé, por favor
E paz para um coração aflito
Vem chegando um turbilhão de emoções
E preciso permanecer calmo

14 de abril de 2008

A Hora de Recomeçar

Não adianta termos noção de que existe um recomeço, se não movermos nossos pés.




É hora de recomeçar
Olhar o sol com bons olhos
Criar suas oportunidades
Entender que é bom viver

O passado morreu
Como a flor sem água
Secou aos poucos
A terra absorveu

O futuro e o destino
Não podem ser lidos
Nas mãos que nada fazem
Esperando o tempo passar

O presente está presente
Vai correndo
E você não poderá mais
Permanecer ausente

Use o frio
Para aquecer a mente
Fazer da solidão
Um estimulo para a coragem

Aquietou-se o pensamento de fúria
A raiva transformou-se em vontade de viver
Nunca mais será preciso chorar
As velhas lagrimas de sangue
De sua idade de trevas

Agora é a hora
Não se pode mais esperar
O mundo espera teus pés
Para recomeçar a girar

11 de abril de 2008

Recomeço


O jornalista na televisão terminava sua ultima frase antes de concluir a finalização do telejornal, dizendo que “ficava por aqui”, mas aquele rapaz sentado ali em frente se recusava a concordar e aceitar aquele como sendo seu próprio destino.
Ele não podia simplesmente ficar por lá, deixar que o universo pesasse de forma avassaladora sobre suas costas e simplesmente dizer, ok, esmague mais uma costela. Ele tinha de fazer alguma coisa.
Ele se sentia mal ainda, com um resto de dor de cabeça provocado pela ressaca da noite anterior. Não se culpava por essa atitude, mesmo que sempre pensara negativamente a respeito de se afundar na bebida como forma de afogar as magoas.
A bebedeira da noite anterior serviu de fato para acorda-lo, mostrar que ele não era fraco e que tudo não poderia acabar só porque dois ou três homens resolveram de uma hora para outra cortar os fios que seguravam uma de suas marionetes. Boneco esse que agia da forma mais correta possível, sempre bondoso e honesto e que criou em seu espírito uma pequena semente de ira contra esse lado heróico, porque, afinal de contas, nem todos os heróis são bonzinhos, e agora ele sabia que não precisava mais ser assim.
Era uma mistura de sensações, entre pensamentos confortáveis de estar livre da obrigação diária de ter de fazer café para um gordo de óculos até a mais penosa que é pensar que no final do mês as contas não tardaram em atormentar. Mas o mais incrível de todas as sensações, a que ele sentia com maior força era a de estar flutuando, sentir-se como em um sonho prestes a acordar e ver que já são seis da manhã e é hora de acordar para ir trabalhar. Sensação essa quase como se estivesse vivendo duas vidas, de estar quase que ligado a uma realidade paralela e que os rumos teriam se unido, como algo inevitável, algo que deveria acontecer em qualquer uma vida possível, de qualquer caminho que pudesse ter escolhido desde seu nascimento.
Se tudo aquilo tinha de acontecer, ele pensava consigo mesmo, era um grande mal inevitável, mas grandes homens eram feitos de atos inovadores, são conhecidos as vezes por terem dado passos maiores que as próprias pernas e alcançado seus objetivos, e mesmo quando tudo dava errado, foram homens o suficiente para dar os próximos passos e seguir adiante.
Ali sentado, digitando seus pensamentos, ele compreendeu que nada é por acaso, que ele poderia confiar em sua força, em sua garra e em seus atos. Ele tinha uma família agora, pessoas que gostavam e se preocupavam com ele, e que, unido a tudo isso, ainda existia as palavras de uma mulher em sua cabeça, dizendo que o caminho que ele seguiria traria muita felicidade para sua vida.
Era nisso que ele ira pensar dali em diante.

7 de abril de 2008

A Fuga de Erika

O ventilador no teto do quarto girava lentamente lançando um vento quente sobre o corpo da garota deitada na cama.
Era apenas mais uma noite de verão para a garota que apenas conseguia manter seus olhos presos na lâmpada do ventilador que piscava e oscilava algumas vezes.
O nome da garota... Bem, ela não queria lembrar. Já não agüentava mais ouvir seu nome sendo chamado todo o tempo, sem a mínima pausa para descanso.
Já passava das três horas da madrugada e na televisão ligada o canal estava fora do ar e fazia um chiado irritante ao ponto da garota se levantar nervosa para desligar o aparelho.
Ao se levantar, seus cabelos desceram pelos ombros e alguns fios cobriram seus olhos. Usava uma camiseta pólo muito amarrotada e um bermudão cinza que cobria seus joelhos. Seus pés cansados e descalços se arrastavam pelo chão e de vez em quando, numa tentativa de diminuir a dor, abria os dedos e tentava encostar o dedão na sola do pé.
Após desligar a TV, andou até a cozinha e, abrindo a geladeira, pegou uma garrafa de leite e se voltou para a secretaria eletrônica em cima do balcão. Apertou um botão para voltar a fita e logo apertou outro para que a mesma iniciasse a falar os recados guardados.
Quando a fita começou a rodar, a musica Born to be Wild do SteppenWolf toca alto e começa a baixar dando lugar a voz doce da garota que dizia: “Você ligou para falar comigo, mas como vê, estou muito ocupada para te atender agora. Deixe um recado que se eu tiver paciência eu ligo mais tarde.”
Depois um sinal tocou e outra voz começou a falar.
“Erika? Está ai? É claro que não... Olha, sei que está cansada e que o ultimo show foi foda, mas você não pode deixar-se abater por aquele merda do Eduardo. Amanhã tem show de novo, então tenta não por tanta raiva na guitarra porque não temos grana para comprar uma nova”.
Mais um sinal e a fita continuou.
“Senhorita Érika, aqui é do Banco Central e estamos ligando para lhe informar que mais uma parcela do seu aluguel acaba de vencer. A senhorita tem até a próxima terça feira para efetuar o pagamento das seis primeiras parcelas ou nos dar sua posição, caso contrario estaremos iniciando o processo de despejo. Tenha um bom dia!”.
Erika fez uma cara de raiva, tomou um gole de leite e ouviu o próximo recado.
“Oi, aqui é o Eduardo, vou ser bem rápido, quero minha TV, os discos do Smiths e do Cult de volta, tudo para amanhã sem falta, certo? Tchau.”.
Nesse momento, Erika pausa a fita antes de começar outro recado, volta ao quarto, arranca a televisão de cima da mesa e, num único movimento, a arremessa pela janela e a observa cair do 10º andar e chocar-se contra o chão. Voltou a cozinha e apertou o botão “play” da secretaria.
“Hum?, que telefone é esse?, ou droga, liguei errado, desculpe”
- Otário... – disse a garota que agora mastigava um velho pedaço de pizza que estava na mesa.
“Dona Érika, meu nome é Carlos, sou assassino profissional. Se precisar de meus serviços, meu telefone é...”
Érika aperta o botão para o próximo recado.
“Alô, aqui é do Hospital Geral. Estamos ligando para avisar a senhorita Erika Monzano que seu noivo Eduardo Figueiredo sofreu um grave acidente de moto esta tarde e foi preciso fazer uma operação de emergência, na qual ele não resistiu. Ele faleceu as 21hs. Meus pêsames.”
Com um sorriso sarcástico, Erika anda até a janela do quarto e, mais uma vez olhando para os restos da televisão e diz:
- Droga perdi uma televisão novinha!!!

6 de abril de 2008

O pensamento e as sementes do mal

Uma das minhas habilidades que sempre me orgulhei em ter, talvez até a que mais me animava e me servia a qualquer momento era a habilidade em escrever, em especial a habilidade que me dava esse poder, que era a possibilidade de pensar.
Não digo apenas pensar sobre coisas simples, como que eu faria na manhã seguinte, mas pensar e progredir, como o que eu faria na manhã seguinte, caso essa fosse minha ultima manhã.
Meus pensamentos dirigiam minha vida. Guiavam minhas atitudes por todos os caminhos em que me encontrava, como uma espécie de plano b que sempre estava ali presente, talvez sendo mais plano a do que b, já que minhas decisões sempre se entregavam a isso.
Essa estranha habilidade de pensar, combinada com meu desejo tantas vezes caótico em imaginar as coisas diferentes, me deu o que costumo chamar de sementes do mal.
Todos os acontecimentos de minha vida, tanto aqueles de que tinha controle até os que invariavelmente não dependiam sequer de um movimento de minhas mãos passavam por uma espécie de filtro em minha cabeça, onde eu designava todas as possibilidades para tal fato ter ocorrido. Não que, dessa forma, eu virasse um adivinho ou algo do tipo, mas sim conseguisse analisar cada ocorrência como uma terceira pessoa a olhar, de fora, como uma sombra vê a arvore se modificar em contato com o mundo.
Da mesma forma muitas dessas analises não tinham tendências muito positivas, tendo sempre certo grau de negativismo associado ao pragmatismo. Dessa forma eu tentava me proteger e ver sempre o lado bom.
Em minha cabeça as coisas funcionavam como ter o lado ruim para ver o lado bom, mas nunca me veio ao pensamento a possibilidade do contrario, do ter o bom e ver o ruim, como uma certa indiferença pelo fato de finalmente tudo começar a dar certo.
Como se minha mente tivesse associado que era preciso errar para aprender e que o acerto era uma fuga da necessidade de aprender, era uma tentativa baseada em sorte para algo quer no futuro viria a dar errado, como numa espécie de lei de Murphy vivenciada.
Meus pensamentos, aos poucos se transformavam em uma arma contra mim mesmo, onde eu evitava aos outros por medo de acertar, evitava até a mim mesmo. Minhas sementes do mal começavam a brotar pouco a pouco em meus olhos e tornar-se cada vez maior, e o grande final veio na forma de um engano.
Pelo meu caminho encontrei pessoas que, assim como eu, também tinham essa estranha habilidade mais aflorada, e o contato com elas me fez perceber o quanto era perigoso essa arma que tínhamos a nossa disposição, pois ao mesmo tempo em que levantamos possibilidades para as coisas que ocorrem, ou seja, quando buscamos analisar a fundo cada acontecimento para tentar descobrir seus porquês, logo acabamos julgando tudo e todos os envolvidos, e como eu disse, a verdade que vem a tona dificilmente será algo positivo pela necessidade que muitas vezes temos de acreditar em algo ruim.
As sementes do mal então projetavam enganos nucleares, capazes de terminar com quaisquer possibilidades positivas e até com sentimentalismos. De uma hora para outra, me vi disparando todas as minhas armar ao encontro de projeteis disparados por outros, e entre mortos e feridos, agora tenho imenso prazer em dizer, me feri sim, mas sai ganhando. Aconteceu algo ruim, e o oposto logo me apareceu, pois o lado bom viria em breve.
Hoje, tendo percebido a forma como as sementes do mal agiam, tenho plena certeza de que tenho meus pensamentos e meus desejos sobre controle, tanto que é devido a esse controle que a muito não consigo escrever nem ao menos um parágrafo sobre o que vejo e o que vivencio, mas aprendi que posso aprender com os erros, sem esperar que eles afetem minha vida para tomar alguma atitude.
Um dia vi em um muro da cidade uma frase pintada a spray preto que dizia: Antecipe a próxima jogada.É isso o que tenho feito desde o fim das sementes do mal.

4 de abril de 2008

Anjos no telhado...


Fazendo uma breve pausa nos textos sobre dor, hoje serei mais que obrigado a colocar esse texto no vortex. É ele quem tem me dado forças a muito tempo, e acho que vem muito a calhar.

Boa leitura!




Eis que numa destas noites de insônia, destas que a gente liga o som, coloca para tocar aquela fita antiga de musicas tranqüilas, pondo o volume numa altura agradável aos ouvidos, deita na cama e esquece da vida, acabei por me recolher nas profundezas do Vortex esperando por algo que pudesse vir a me fazer dormir, adormecer tranqüilamente como se costuma fazer nestas noites de primavera.
E qual não foi minha surpresa ao perceber um som estranho vindo do telhado, como passos de criança nas telhas molhadas pela chuva fina que encobria a lua.
Espantado, pensei em sair de casa, ver quem se atrevia a subir no telhado e fazer aquele barulho estranho no meio da noite. Podia ser qualquer coisa, desde os pombos que procuravam um lugar seguro para dormir até os gatos que se aventuravam pela noite, mas não, sabia que era alguém, que era aquela estranha pessoa que todas as noites aparecia em meus sonhos para me mostrar pedaços daquele imenso paraíso escondido por detrás da escuridão de nossas mentes.

...- Abra a janela...

Aquela voz, cantando em minha cabeça, pedindo para que apenas abrisse a janela para que pudesse entrar e dançar aquela musica comigo e ir embora.
Mãos quentes, olhos brilhantes em meio a escuridão corrompida apenas pela frágil luz das velas sobre a mesa, voz doce, delicada, cabelos de cor indecifrável, magnéticos, tocando meu rosto enquanto dançávamos.
E dizia:

- As vezes nós caímos lá de cima. As vezes conseguimos esticar a mão para tocar suas almas e as vezes conseguimos estar tão próximos que somos apenas um. As vezes caímos de suas mentes para a realidade, mas estamos sempre dentro de vocês, sempre com vocês.

Acordei na manhã seguinte, havia dormido como a muito não o faço, e no quarto ainda existia aquele breve perfume adocicado que toda flor sonha em ter, e em minha mente a voz ecoava...

- As vezes caímos lá de cima...