25 de outubro de 2008

Rituais

Em minha humilde opinião, existem certos rituais que devem ser mantidos para que a mente humana não se perca no mar de loucura a que é exposta todos os dias.
Em minha rotina diária de acordar, trabalhar, dormir, tento manter pelo menos um, que, nesses últimos tempos de fúria, me mantém de cabeça fria.
Chego no trabalho geralmente dez minutos antes de entrar para o sacrifício.
Na porta de entrada, ainda do lado de fora, me sento em uma espécie de banco de concreto, de onde tenho vista para um prédio de escritório e suas vidraças gigantes, um outro edifício que acredito ser um daqueles flats ricos próximos a Faria Lima, e a uma espécie de retângulo entre eles por onde vejo o céu e suas nuvens..
Observo o escritório, e penso em um trabalho atrás de uma mesa, ao qual não nasci para desenvolver.
Observo o flat, e penso em um lugar ostensivo demais para a minha personalidade, logo nunca vou desejar me hospedar por lá.
Observo o céu, e quando um avião passa, me imagino dentro dele, fugindo para qualquer lugar do mundo, tentando sobreviver aos fatos que tentam me devorar, lutando contra meus demônios para que eles não me persigam nesse novo caminho, ainda que isso fosse algo impossível.
Respiro fundo, olho o céu novamente e entro para trabalhar.
O mais interessante, é que a alguns dias atrás, percebi que mais alguém seguia um ritual muito parecido.
De uma das janelas do escritório, alguém, sentado em sua cadeira confortável, vira-se e observa o mundo lá fora. Passa um bom tempo a olhar os edifícios, as pessoas na calçada, os carros num engarrafamento, os faróis piscando, o sobe e desce de helicópteros, e um jovem sentado numa base de concreto.
Um dia talvez, acabemos sentados juntos em uma das cadeiras brancas do deck, tomaremos um café, e discutiremos nossos rituais.
Talvez um dia tudo seja diferente.

23 de outubro de 2008

Três no Sofá

Pin Up em homenagem a uma amiga!




Enquanto escrevo, me vem em mente a cena, como uma fotografia 3x4 que nunca ira se perder, e que um dia, poderemos ver numa dessas lojas de artigos fotográficos, ainda que não entendamos seu motivo para estar ali.

Três pessoas sentadas num sofá eternamente confortável, cigarros e suas brasas violentas, uma televisão com um filme desses que só alcançam espaço durante a madrugada, quadros e capas de revistas com seus sorrisos deselegantes, forçados pelo momento, livros cheios de histórias repetidas ao acaso.

Lá estavam eles, simplesmente eles, sem super poderes, sem intenção de causar alarde ou ficarem simplesmente quietos.

Uma moça e sua blusa branca, estilo aluna do colegial dos anos 60, cabelo em rabo de cavalo acima da nuca, uma calça jeans impecável, sapatinhos amarelos, apoiada sobre o ombro e um sorriso de cordialidade, ainda que seus olhos estremecidos pelo cansaço pedissem por algumas horas de descanso.

Um rapaz, franzino, olhos fixos num canto qualquer da parede branca, blazer escuro, uma camisa social meio amarrotada, calças largadas, sapatos perfeitamente engraxados, cigarro na boca a la James Jean.

Outra garota, um misto de Marilyn Monroe e Madonna, All Star cobrindo os pés, blusa escura de recheio composto por um algodão branco, visto apenas pelo capuz jogado em suas costas. Cabelo formado por cachos revoltados, e dona de um estilo ao qual David Bowie sentiria prazer em ter.

Brasas, queimando o tempo que lhes restava naquela sala, tomando para si um momento intenso, engolindo uma noite que, de tão inesperada, tornou-se tão importante.

Hoje talvez torne-se apenas uma fotografia estranha para olhos alheios, mas para eles, sempre permanecerá como algo especial.