8 de setembro de 2009

E Se?

E se um dia, qualquer dia, você resolva sair de casa como sempre fez, mas dessa vez observando a sua volta?
E se você olha a sua volta e tudo o que pode ver são pessoas correndo em direção a seus fins definidos?
Se um dia, de repente, você resolve sentar em um lugar diferente, seja no ônibus, na praça durante o almoço, ou uma cadeira vaga na sala de aula?
E se reparar que por ali tem alguém?
E se o olhar se cruzar e não conseguir desviar?
E se nas profundezas desse olhar você conseguir ver toda a sua vida passando como numa película noir e ter certeza que, do outro lado, a pessoa dona desse brilho intenso, também tem a mesma sensação?
E se você sentir que essa pequena ligação momentânea esconde muito mais do que você pode ver ou sentir em tão pouco tempo, sendo necessário se entregar cada vez mais a esse processo de hipnose tão raro?
E se você sentir seu corpo tremer, suar frio, se tiver medo, se tiver empolgação, simplesmente por receber um "oi", seguido do sorriso mais encantador que você irá receber em toda sua vida?
E se durante uma conversa você sentir afinidade perfeita, sentir-se repleto de felicidade e harmonia, tendo em vista que esse sentimento vem de alguém que você pouco conhece, mas que tem a leve sensação de que já conhece por inteiro? E sentir que tal pessoa pensa o mesmo, e sente o mesmo?
E se em um impulso, simplesmente impossível de se controlar, se atira em direção a uma boca, que o recebe delicadamente, com lábios macios?
E se você sentir que não apenas se achou, mas encontrou algo que a muito lhe tirava o conceito sobre viver?
E se você sentir que pode permanecer nesse estado eternamente?
Pode ser amor?

7 de setembro de 2009

Das Coisas Que Me Ensinaram e a Vontade de Viver

A gente sempre pensa que existe um lugar onde poderemos chamar de "porto seguro", para onde vamos correr quando tudo em nossas vidas der errado, tornando esse lugar em uma espécie de ponto de restauro das energias para se lançar ao mundo novamente e recomeçar.
Você carrega esse sentimento ligado a ideia de que seus pais serão sempre os mesmos, cuidarão eternamente de você enquanto lhes restarem um pingo de força nas veias, ainda que tal pensamento seja puramente egoísta.
Sempre desejei, contudo, que minha mãe fosse dona de sua própria vida, esquecendo esses laços e dando um basta em uma vida feita para servir aos filhos e a uma aposentadoria que nunca chegaria.
E quando esse momento chegou para ela, duas coisas ferveram dentro de meu peito, de forma boa e ruim ao mesmo tempo.
Ela conseguiu se aposentar, juntou algum dinheiro, fez um pequeno empréstimo, comprou um pequeno apartamento na praia e foi curtir sua vida, ao mesmo tempo em que colocou a casa em que vivemos grande parte de nossas vidas, a venda.
Fico imensamente feliz por ela, por essa decisão tão acertada, e ao mesmo tempo me sinto triste por saber que muito em breve não terei mais aquele lugar sagrado onde poderia retornar, mesmo que para relaxar enquanto meus irmãos brincam com os filhos ou armamos um churrasco improvisado em uma manhã de domingo.
Dentro de pouco tempo estarei por minha própria conta e risco, e tenho medo disso.
Da mesma forma me recordo de momentos interessantes em que, indiferente de meus medos, o futuro se mostrou tão certo como quem entrega não apenas o olhar ao horizonte, mas vislumbra tudo o que está além da linha que o distingue.
Me recordo das vezes em que, desanimado com quedas constantes, arranquei a bicicleta do meio de um aglomerado de tralhas do porão e fui pedalar até uma cidade vizinha, Paranapiacaba.
Estrada pura, poucos carros, tarde de sol forte e entardecer com direito a neblina, árvores e montanhas, sobe e desce, cerca de duas horas para ir e voltar, e a certeza de que ao desmontar de minha querida parceira, iria encontrar boas respostas para minhas indagações.
Aprendi isso com meu pai, e devo agradecer por isso.
Noutros tempos me recordo de chegar em casa do colégio e cozinhar, enfrentar as panelas e montar banquetes com direito a sobremesa, que geralmente era composta por torta de limão!
Sentia prazer em gastar aqueles momentos em que pensava rápido demais e tomava conclusões precipitadas em algo mais útil e relaxante, que logo me mostraria que para tudo é necessário ter mais foco, carinho, delicadeza e atenção.
Hoje me alimento e trabalho devido a essas lições ensinadas por minha mãe, e agradeço a ela por isso.
Do meu irmão mais velho encontrei a força para continuar em frente, não desistir, ser guerreiro não importa o que viesse a acontecer, e com muito prazer posso dizer que o tive como companheiro de trabalho em algo que nunca fui capaz de acreditar que ele poderia conseguir. Se apresentou em campeonatos, se saiu mil vezes melhor que eu, e é a ele a quem eu agradeço pelas lições de raça.
Meu irmão do meio, de decisões meticulosas, planejamento, de conversas em um apartamento no Brás a festas em lugares inóspitos. Entre musicas escritas em papéis velhos dentro de uma pasta preta levamos nossos raciocínios até planos mirabolantes e descobertas geniais, e a ele devo a curiosidade, o pensar, e o que mais tenho usado nesses últimos tempos, diplomacia.
Dessa minha primeira família consegui algumas armas que, nesse momento, me fazem acreditar nas possibilidades e nas saídas para quaisquer problemas que poderei enfrentar, então, por hora, estou em meu próprio porto seguro.
Logo, a sensação de perda que tenho por aquela casa grande demais para uma senhora morar, é mais por saber que durante muito tempo foi uma casa pequena demais para três adolescentes e uma mulher batalhadora.
Sentirei saudade, mas seguirei em frente, para que um dia eu mesmo possa ter meu lugar reservado frente a praia.