19 de fevereiro de 2009

Hábitos

Sou um cara meio maluco, e como tal, tenho hábitos meio estranhos.

As vezes acordo no meio da noite depois de pesadelos e, para fugir deles, arranco o colchão da cama e o levo para qualquer outro lugar da casa. Jogo no chão, deito, e tenho um sono perfeito. Nunca acampei na cozinha ou no banheiro, até porque não tem a menor possibilidade, mas a sala tem se tornado uma ótima escolha.

Escovo os dentes enquanto tomo banho, porque acredito que fazer bochecho com a pasta de dente e água quente dá uma sensação de refrescancia muito maior.

Aprendi a tocar violão na raça, escutando as musicas que gosto e tentando acertar as notas, tendo a ajuda de algumas revistinhas cheias de acordes prontos. E hoje sigo um nível de instrução básico, mas tenho algumas notas na memória. Só não me pergunte o que é um lá e onde ele se situa, porque não tenho a menor ideia.

As vezes saio na chuva, e mesmo que esteja com o guarda-chuva na mão, evito abrir, só para sentir as gotas escorrendo pelas minhas sombrancelhas e correr pelo meu pescoço.

Gosto de ir a praia, sentar frente o mar e ficar viajando na paisagem. Não preciso nem entrar na água, pois já me vale escrever algumas boas frases enquanto observo as ondas no horizonte. Se for um dia nublado, melhor ainda.

Ando na rua olhando para o auto, encarando o topo dos edifícios, procurando por lá o que não encontro no chão. E nesses momentos de vislumbre do céu, percebo muito mais a amplitude das coisas do que muitas outras pessoas jamais irão perceber.

Tenho um carinho todo especial pelas coisas que faço, e faço todas elas com muito amor, por que é essa a forma que gostaria que as pessoas fizessem para mim. Portanto, cada café que tiro em uma maquina brilhante, leva um pouquinho de mim dentro da xícara para a mesa.

Sou do tipo que se entrega de cabeça no que sente, como que num mergulho desesperado em busca a algo que muitas vezes é apenas um bloco no fundo do oceano onde vou dar com a cabeça.

Sou sincero, faço o que quero, digo o que penso.

Gosto de um bom rock e escuto musicas que ninguém nem sabe de quem é.

Tenho poucos amigos, mas faço deles minha família, e não permito que julguem minhas amizades, pois são tudo o que tenho.

Escrevo coisas sem sentido, penso bobeiras o tempo todo, reflito sobre o porque do passarinho bater o bico no asfalto se não há nada ali para comer.

Bebo um vinho sozinho, analiso cada gota escorrendo pela minha língua em direção a garganta, e guardo isso pra mim, para lembrar na próxima garrafa.

Gosto de cozinhar, montar banquetes, montar mesa, ainda que seja apenas para mim.

Sou um cara meio maluco, e como tal, sou igual a todo mudo. Só mais um passeando na roda gigante, esperando o momento de descer.

10 de fevereiro de 2009

Sobre a possibilidade da desistência

Eu não quero mais
Esquecer quem sou
Esquecer o que amo
Abandonar sem lutar
Eu não posso
Esquecer tudo assim
Seguir tranquilo
Vida pão com manteiga
Aconteceu
Eu vi
Os olhos se encontraram
Existia vida neles
Fortaleceu
Eu sei
Um elo que já existia
Ainda que não soubéssemos
Não sou o cavalo ferido
Que se levanta e corre para longe
Mas o guerreiro intrépido
Que não vai se entregar
Sua donzela
Trancada em sua cela
Tem a chave
Só falta sair
Estou aqui fora
Não quero desistir
Nem passa por minha cabeça
Ilusão de que poderia
Viver
Eu não posso mais
Deixar que escape de mim
Um sopro de vida
Uma vida perfeita
Não posso deixar
O nada cobrir fantasia
Preciso contar essa história
E presenciar até o fim
Não posso permitir
Que você se afaste
Sem antes lutar
Para sermos felizes

4 de fevereiro de 2009

O Cavaleiro e a Guardiã


Acordo todas as manhãs, visto uma armadura metálica cheia de placas que cobrem meu corpo, de forma a não deixar nem um ponto visível para meus inimigos.

Não é tão brilhante como deveria, e na realidade, não me protege muito bem, e o tempo já fez com que ela ficasse enferrujada em alguns cantos, rangendo a cada passo que dou como se estivesse sempre molhada por chuva intensa.

Minha espada, essa eu mantenho intacta, e não a retiro da bainha por qualquer motivo, pois não se luta pelo bem ou pelo mal, pois cada um tem uma concepção muito diferente do que essas “benfeitorias” podem ser. O que é bom para mim, nem sempre é bom para meu semelhante, então prefiro me manter calado boa parte do tempo, do que iniciar uma batalha por algum motivo besta.

A guerra de nada me serve, já que tenho minha fala como melhor arma para resolver qualquer diferença.

Já estou a um bom tempo nessa jornada em busca de meu cálice sagrado, e agora que encontrei, abandono meu traje pesado e meus dias de luta e busca.

Cheguei a pensar que nunca o encontraria, que era uma ilusão acreditar que seria possível, e que nesse novo mundo não havia mais lugar para homens como eu, da velha guarda, que acreditavam na vida plena.

E repentinamente, em meu acampamento, um brilho intenso me acorda em meio a uma noite de chuva. A guardiã aparece, sorrateira, rápida, se apresenta com algumas palavras e me domina por inteiro.

E não era necessário lutar, nem sequer mover um músculo contra, pois ela, na realidade, era meu cálice, a dama que carregava consigo tudo o que procurei em tanto tempo perdido.

E qual é a minha surpresa hoje saber que estivemos nos mesmos lugares, tão próximos, mas por questões temporais, ainda eram os momentos errados.

Seguíamos nossos passos, escutávamos nossas vozes chamando um pelo outro, nossos pensamentos se cruzavam como que guiados a um destino certo, precisávamos apenas um do outro.

E que bela guardiã é ela, guardando o fogo da vida dentro de sí como que brincando com as chamas do sol, me oferece um sorriso destruidor, um olhar que me atravessa, mãos que tocam minha pele e me aquecem, me protegem num abraço eterno.

Guardiã de meu cálice, guardiã de minha alma, guardiã do meu amor.

Tenho ela comigo agora, e nada mais me falta nessa vida, mas preparo minha armadura deixando ela como nova, guardo minha espada novamente na cintura me preparando para novas batalhas, pois por mais que eu saiba que não preciso mais procurar, sei que meu objetivo agora mudou, e que tenho de protege-la a qualquer custo.

Sou o guerreiro banhado em prata, o homem que monta em seu cavalo todas as manhãs, aquele que vê o mundo e cruza o infinito, aquele que desafia qualquer coisa, tudo isso para estar ao lado de sua guardiã, que chegou para salva-lo.

Estamos juntos agora, e nossas vidas começam aqui.

3 de fevereiro de 2009

Explicações sobre o momento

Para alguns, o texto escrito abaixo, pode parecer uma mudança de estilo e ideias muito grandes, mas na realidade é apenas um texto que andava pela minha cabeça a algum tempo e precisava soltar essas palavras antes de prosseguir com uma onda mais romântica.
Sim, meus caros amigos, fui tocado pela presença de uma pessoa simplesmente maravilhosa, que conseguiu deixar meu mundo, até então perdido, de cabeça para baixo, mas de uma forma tão especial que repentinamente, tudo estava em ordem, na mais perfeita sinergia. Perfeição pura.
Para aqueles que não se apaixonaram, persistam, pois sempre tem alguém pra gente nesse mundo azeitona, e quando a gente menos espera, morde o caroço.
"e até quem me vê lendo jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei"

Los Hermanos - Ultimo Romance

Vivo

Vestiu a farda, passada, lhe caia como uma luva no corpo.
Arrumou a arma calibre 38 na cintura, prendendo a corrente de segurança junto a algema brilhante.
Sentou a mesa para o café da manhã, seus filhos e sua esposa se juntaram para um momento de conversa, contar as novidades, notas boas na escola, horário marcado no cabeleireiro, festa de casamento do tenente no próximo final de semana.
Tomou seu gole de café, leu noticias de uma cidade putrida no jornal matinal, levantou-se, aprumou-se, seguiu em direção a delegacia.
Carro de patrulha, giroflex piscando como quem olha para todos os lados em busca da criminalidade, o radio chama algumas viaturas para o combate iminente, e o dele, é ele quem está mais próximo.
Acelera, passa voando pela Paulista, cruza a Dr Arnaldo queimando o farol, mas ele é a lei, ele pode.
Cruza um apanhado de ruas da Vila, chega no lugar do assalto, dois bandidos armados renderam um casal apaixonado que seguia para um lugar qualquer, e agora, era só eles contra as implacáveis balas de seu revolver.
As vitimas se escondiam atrás de uma banca de jornal, os bandidos corriam alucinados rua a dentro, ele, policial veterano, sabia que aquele era o momento de perseguir, render, atirar se fosse preciso.
Rua sem saída, cilada armada, dois futuros presos, um policial salvando o dia, uma medalha talvez e a sensação de dever cumprido.
Mas seu colete não estava preparado para o que viria.
Uma chuva de balas, policial caído, ferimento que atravessara seu estômago, dois últimos tiros, bandidos estatelados no asfalto.
Estava morrendo aos poucos, sangrava como que corria um rio para fora, deixava sua vida escorrer gotas negras, junto a um suor frio, uma tremedeira que prenunciava o fim.
Um som ao longe, uma ambulância vinha em seu socorro para tentar guardar os únicos fios de vida que o prendiam, mas ele sabia, era tarde demais.
Jogado na maca, utilizava de seus últimos momentos para espiar pela janela lateral no carro branco.
Pessoas nas ruas andavam calmamente, atravessavam ruas, conversavam em bares, trabalhavam em escritórios, seguiam suas vidas.
Ele era só um rosto pálido atrás de uma janela, que ninguém conhecia, que ninguém olhava, que ninguém desejava, que ninguém se interessava.
Lembrou de seus entes queridos deixados para trás, de seus filhos, de sua esposa, de seus netos que viriam um dia, de sua família crescendo, e de tantos outros que agora seguiriam suas vidas, como se nada tivesse acontecido.
Mas as pessoas são assim, ele pensou atônito, pois não se importam com a felicidade ou o bem estar alheio, mas sim com suas próprias necessidades, com suas vontades, suas mesquinharias anunciadas em forma de objetos que se pode comprar, acreditando que o verdadeiro caminha para a felicidade era obter as coisas para sí, sempre mais e mais.
Deu sua vida por uma ordem desordenada, por um mundo corrupto e desonesto, por tantos outros que iriam ver sua foto no jornal do dia seguinte e fechar o jornal, engolindo seus últimos goles de café gelado.
Acalmou-se, sentiu o frio correr a espinha, o sangue chegando ao fim de sua fonte, o mundo girar, os olhos fecharem, adormecer.

1 de fevereiro de 2009

Uma vida para se viver

Uma vida para se viver

Para olhar ao lado

E te ver assim

Com um sorriso de criança

Uma vida estranha

Para me ver no espelho

Estar assim

Tão bobo

Uma vida para se acordar

Para seguir nessa viagem

E aperte os cintos

Estamos chegando lá

Uma vida seguir o vento

Marcar teus passos

Um lápis bem apontado

Em direção ao horizonte

Uma vida pra te acompanhar

Cuidar do teu desejo

De me fazer feliz

De estar assim

Uma vida para te encontrar

Uma hora aqui outra ali

Poucos segundos

Uma eternidade

Uma vida para te desejar

Para estar em seus braços

A gente derrete

A gente se ama

Uma vida para fugir

Trocar de nome

E ser feliz

Feliz

Uma vida para se viver

Para te ter do meu lado

E ver você assim

Minha pequena