Enquanto escrevo, me vem em mente a cena, como uma fotografia 3x4 que nunca ira se perder, e que um dia, poderemos ver numa dessas lojas de artigos fotográficos, ainda que não entendamos seu motivo para estar ali.
Três pessoas sentadas num sofá eternamente confortável, cigarros e suas brasas violentas, uma televisão com um filme desses que só alcançam espaço durante a madrugada, quadros e capas de revistas com seus sorrisos deselegantes, forçados pelo momento, livros cheios de histórias repetidas ao acaso.
Lá estavam eles, simplesmente eles, sem super poderes, sem intenção de causar alarde ou ficarem simplesmente quietos.
Uma moça e sua blusa branca, estilo aluna do colegial dos anos 60, cabelo em rabo de cavalo acima da nuca, uma calça jeans impecável, sapatinhos amarelos, apoiada sobre o ombro e um sorriso de cordialidade, ainda que seus olhos estremecidos pelo cansaço pedissem por algumas horas de descanso.
Um rapaz, franzino, olhos fixos num canto qualquer da parede branca, blazer escuro, uma camisa social meio amarrotada, calças largadas, sapatos perfeitamente engraxados, cigarro na boca a la James Jean.
Outra garota, um misto de Marilyn Monroe e Madonna, All Star cobrindo os pés, blusa escura de recheio composto por um algodão branco, visto apenas pelo capuz jogado em suas costas. Cabelo formado por cachos revoltados, e dona de um estilo ao qual David Bowie sentiria prazer em ter.
Brasas, queimando o tempo que lhes restava naquela sala, tomando para si um momento intenso, engolindo uma noite que, de tão inesperada, tornou-se tão importante.
Hoje talvez torne-se apenas uma fotografia estranha para olhos alheios, mas para eles, sempre permanecerá como algo especial.
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