17 de agosto de 2009

Tempos Dificeis para os Sonhadores

Cair da tarde, céu azul e borrões sutis de um laranja anunciando a noite, com um amontoado de nuvens brancas passeando por entre os prédios altos.
Me sentei em uma cadeirinha de plástico que fica na varanda, puxei meu scratch book improvisado, uns dois lápis, uma borracha e passei a observar as janelinhas dos apartamentos vizinhos.
Algumas abertas, outras fechadas, cortinas de cores variadas, duas pessoas na sacada conversando, um senhor solitário assistindo um jogo de futebol, um guindaste erguendo outro prédio lá longe, nada de novo na realidade.
A rotina nos deve ter pego de uma forma tão incrível que paramos de ver dias como esse, lindos, para os transformar apenas em dias simples, com sol, jogo na televisão, papo na varanda e janelinhas fechadas.
Em um outro apartamento, cortinas fechadas, uma luz suave vinha de dentro projetando a sombra de duas pessoas no pano creme.
Um casal estava dançando.
Eu era apenas o observador, tendo a minha frente a rotina massacrante envolvendo cada linha visível, mas naquela sala havia um casal pondo em pratica um de meus textos, e o mais peculiar ainda... meu ultimo texto...
Era como ver a realização de meu desejo, como estar frente das palavras que me saíram como quem grita um pedido, mas não era eu naquela sala, não sentia o abraço ou escutava a musica que brindava o casal ao fundo.
Uma brisa leve, um apanhador de sonhos ressoa no ar vazio, as árvores ao longe batem palmas com suas folhas e em meu livro iniciei o retrato da tarde mais inóspita que poderia ter.
Inóspita porque era como um ataque direto em meu peito, com tantos detalhes que seria impossível traduzir em linhas de grafite o som do vento, o tilintar do apanhador ou o farfalhar das árvores, e tão impossível ainda seria descrever exatamente aquela paixão que fazia o casal dançar tranquilamente.
A tarde perfeita estava ali, mas não era para mim.
São tempos difíceis para os sonhadores, escutei de um amigo que chegou em casa pouco tempo depois e me pegou ainda na varanda segurando meus lápis.
Não cabe a mim pensar somente em meus desejos, esperar que outro fim de tarde como esse repentinamente se apresentasse para mim com todas as minhas vontades feitas em uma bandeja de prata.
O dia seguia em frente, a brisa ainda persistia, e eu seguiria atento aos detalhes.

Um comentário:

Unknown disse...

Olha, como eu disse cuidado com os detalhes, o Diabo mora neles ..Não acho que os tempos estejam difíceis para os sonhadores ...Esses adoram os tempos difíceis, porque quando mais distante o almejar do sonho mais colorido ele fica...Logo, quanto maior a dificuldade imposta pela vida mais vale a pena sonhar ...Seja persistente ...O sonhar vale mais do que a própria realização ...Apenas sonhe ...Nunca será em vão ...
Beijos, Kika.