29 de janeiro de 2013

Socos

Olha só, esse aqui foi escrito meio no susto, um apanhado de ideias que jorram na minha cabeça hoje e que de certa forma esta meio cru ainda, mas são coisas que eu precisava soltar.

Um apanhado de sensação que eu precisava explicar melhor até pra mim mesmo, mas que ainda é meio difícil de resumir.

Esse texto é mais como uma forma de dizer que as vezes é necessário viver sem se importar muito com os efeitos colaterais de nossas escolhas, já que o que é bom para mim nem sempre é positivo aos olhos alheios.

E aproveito ainda para dizer que viver é preciso, da mesma forma que deixar que as pessoas a nosso redor também tenham suas vidas é extremamente necessário.

Por favor, comentem minhas loucuras, ok?

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Os nós de seus dedos estavam em chamas, e ele não estava nem na metade do serviço quando a primeira gota de sangue escorreu pela ferida que se abria com o impacto do punho fechado na parede.

Naquele dia em especial, que poderia bem ser apenas mais um em tantos, ele decidira que era hora de resolver todos os problemas em sua vida, e para isso, lembraria de todos os seus feitos e de tudo que ainda tinha por concertar.

Porem, em uma catarse mais dolorosa, decidira que, para cada decisão errada que ele havia tomado em sua vida, um soco deveria ser dado em uma parede, e a dor seria o suficiente para lembrar e penalizar sua alma por todo mal que poderia ter causado as pessoas.

A janela estilhaçada por uma pedra, o chute na canela do colega de classe, a mentira contada para não ir a aula, a roupa suja de barro jogada fora para que ninguém soubesse, o telefonema avulso no meio da madrugada que acordou um desconhecido, o gato apedrejado da vizinha,  a namorada que pulou a janela do quarto para fugir, o carro batido em um racha, a bebedeira insana e as drogas usadas, os amigos abandonados ao tempo, os amores não compartilhados, os amores inventados, os amores por interesse, os trabalhos esquecidos, as faltas e os atrasos por displicencia, a má vontade em ajudar, e tudo isso nem era a metade quando sua mão já estava em frangalhos.

Todas as faltas estavam sendo pagas a cada murro, e o osso já se despedassava quando um pensamento doentio varou por sua mente.

Durante todos esses anos, frente a todos os feitos, um personagem importante havia sido sacrificado e sofrido com tudo isso, um personagem único vivenciou todos esses momentos e hoje estava jogado no chão da sala com os punhos ensanguentados. Um ultimo mal foi causado e para esse não tinha volta e muito menos punição viável.

Durante tantos anos ele havia feito o mal para si mesmo, havia buscado a maldade e o mal cobrava de sua vida pelas coisas ruins que fizera.

A sua frente a parede vermelha sangue pedia mais um tributo, mas não era para acontecer.

Frente a toda maldade, e a toda bondade, o homem ainda tem uma escolha. Ninguém pode ser bom demais sem correr o risco de sofrer um dia com a maldade, da mesma forma que ninguém é mal demais que um dia não possa ter um ato puro de bondade. O ciclo seria formado por atitudes que, de acordo com o livre arbítrio, poderiam ser boas ou ruins, dependendo do ponto de vista.

Para aquele rapaz destruído, sobrava agora a esperança de salvar sua alma dando uma simples segunda chance para viver, e tomar as decisões corretas.

Porem, perguntas ainda pairavam no ar: Será que nos culpamos pelos motivos corretos? Será que realmente somos dignos de culpa? Será que se retornássemos no tempo poderíamos mudar as coisas sem se arrepender das mudanças que ocorreriam no futuro e por consequencia sucumbir a tentação de mudar tudo novamente? Quantas vidas seriam necessárias para se chegar a uma vida de bondade plena sem intervenção do mal, ou até mesmo o contrario? Quantos socos seriam necessários para percebermos o valor de cada gota de vida que escorre a todo momento de nós?

Saint Exupéry nunca fez tanto sentido quando diz que o essencial é invisivel aos olhos.

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