27 de março de 2008

Isto está começando a doer de verdade (parte 2)


Do outro lado da cidade, um garoto, pouca idade, cerveja esquentando na mesa, uma porção de provolone embebida em azeite e uma pitada de sal para dar algum sabor.
O mundo girava, e ele sabia disso, por mais que sua cabeça cheia de álcool tentasse transformar sua percepção da realidade em algo totalmente surreal.
Era uma vaca vermelha com bolinhas azuis atravessando a escuridão? Não... certamente que não.
Sozinho, como sempre, e preso naquela cadeira que cismava em atraí-lo toda quarta-feira de folga, para que observasse calmamente o movimento das prostitutas rua acima, chamando táxis para mais uma festa particular. Para os que pagavam, é claro.
Mas o que o incomodava era o fato de estar preso naquela cadeira, de não se mover, de saber que tinha muito mais capacidade para mudar seu próprio destino do que fingia saber.
A grande realidade era que talvez ele quisesse se manter preso a aquela realidade mórbida de trabalhar para seu próprio sustento, sem ter interesse em qualquer outro assunto que não fosse trabalho. Vivia para trabalhar e trabalhava para viver. Estava bom assim.
Por quanto tempo?
Por quanto tempo aquela cerveja gelada o manteria preso ao calor da cadeira, sem que ele tomasse conta da realidade do mundo e de sua própria vida?
Por quanto tempo toda aquela situação iria amortecer o peso que carregava em suas costas e que um dia o faria sofrer?

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