Diante desse fato, temos a situação a seguir.
O camarada tem vida noturna, trabalha enquanto os outros de seres diurnos estão se preparando para dormir, não se deita antes das três da madrugada, rola na cama durante um bom tempo, atingindo o sono esperado apenas nas primeiras horas da manhã, quando o sol pula fora para o céu.
Certo dia, não satisfeito, decide voltar a estudar! E de manhã!
Acorda (?) as seis da matina, babando, olhos vermelhos, remela em formação no canto dos olhos, ainda com bafinho de creme dental.
Tira a roupa quente, banho morno, copo de leite gelado, se arruma, joga o corpo na rua e segue para sua nova rotina.
Pelas calçadas se confunde entre vários outros zumbis que seguem tropeçando até seus destinos, manda um café para as profundezas de seu estômago, garantindo os próximos passos até seu destino.
Os cinco minutos de sono (?) a mais se transformam em atraso. Chega na sala de aula e senta em uma mesa mais afastada, onde, teoricamente, teria facilidade em tirar uma boa pestana.
Mas para sua surpresa (e desagrado), a querida professora pede que seus alunos afastem todas as cadeiras do centro da sala e sentem em circulo. Danou-se...
Tolerância, seus pensamentos pedem, afinal de contas foi ele mesmo quem escolheu estar ali!
E tolerância é justamente o que falta para seus dois colegas mais próximos: O sono de uma noite terrível e a fome referente a um café da manhã ridículo.
Os olhos ardem, forçam as pálpebras em uma luta constante para mante-las abertas, um bocejo escapa, a barriga ronca alto, proferindo um eco que vem do vazio em suas entranhas.
As palavras da professora sorridente vão em encontro a seu rosto violentado pelo desespero e a vontade de fugir de volta para a cama.
Se arruma na cadeira desconfortável, tenta prestar mais atenção, foca a visão nas palavras escritas no quadro negro e ai surgem outros problemas.
Focar a atenção consiste em ser permanentemente distraído por qualquer coisa que possa induzir ao sono.
Uma mosquinha passeia pelo chão em passinhos minúsculos, a cortina balança de um lado ao outro com o leve vento que entra por uma fresta da janela, o piscar da luz artificial quase que compassado, um leve raspar de pneus no asfalto em alguma rua distante e, o golpe fatal, pequenas gotas de chuva batendo contra o vidro da janela, provocando um som irresistível, quase como uma canção de ninar.
Os olhos fecham as portas, a cabeça pende ao chão, a mão desiste de dar suporte, e ai acontecem aqueles cinco segundos de pesca por um sono desatento, suficiente para todos ao redor perceberem o estrago.
Eis então que o grande guerreiro de sabedoria imensa cai diante de toda a fadiga adquirida nesse processo de estudar.