28 de outubro de 2009

Deu no Noticias Populares...


Sindico e porteiro de condomínio de alto padrão foram presos na tarde desta terça feira sob a acusação de assassinar a sangue frio cinco crianças, filhos dos moradores.
Em entrevista concedida ao repórter pelo delegado de plantão no ato da prisão dos meliantes, o sindico, de nome R.W., 57 anos, se sentia incomodado com um dos garotos que, por volta das oito da matina, saia na sacada e chamava o colega do prédio ao lado para brincar, sendo que o fazia aos berros.
O coleguinha em questão respondia a plenos pulmões, iniciando uma conversa duradoura que logo ganhava a participação das três outras vitimas.
O sindico, que tem problema grave de insonia, escapava nas primeiras horas da manhã para seu curto sono até as oito, hora de inicio da ladainha das crianças.
Foi então que resolveu exterminar os pobres garotos um a um e esconder seus restos mortais na fossa de um dos prédios, que volta e meia tinha problemas e entupia.
Para o serviço contratou o porteiro, J.B. de 35 anos, que também não tinha muito afeto pelas crianças (e que já tem passagem pela policia por contrabando de drogas e nudez em publico).
Os dois inicialmente atacaram três enquanto voltavam do colégio, cortaram os corpos em vários pedaços na garagem subterranea e esconderam na fossa.
Logo em seguida telefonaram para uma desentupidora de faixada, Limpa Fosso Ltda., que sabendo do ocorrido, se adiantou em eliminar qualquer evidencia antes que os pais aflitos pudessem perceber o ocorrido.
Durante duas semanas o caso foi taxado como sequestro e logo após por desaparecimento, já que não houve contato dos sequestradores.
As outras duas crianças foram pegas da mesma forma no mês seguinte, mas o trabalho de sumir com as pistas acabou por falhar, já que a mão de um dos garotos permaneceu entalada em um dos canos, sem que o bando percebesse.
Um dos moradores, incomodado por ver seu vaso sanitário entupido, contratou o serviço de outra desentupidora, que logo encontrou os restos mortais esquecidos na tubulação.
A policia foi chamada e os dois foram presos em flagrante, não resistiram a prisão, contaram em detalhes como armaram o plano e deram cabo dos garotos, e não sentiam qualquer remorso por suas atitudes, acreditando piamente terem feito um grande bem a humanidade.
Os responsáveis pela empresa Limpa Fosso Ltda. ainda não foram encontrados, mas a policia segue investigação para capturar os suspeitos de ajudar no crime.
Uma equipe especial segue em busca dos restos mortais das crianças, mas ainda não há suspeita de onde os corpos possam ter sido enterrados ou jogados. Os presos alegam não conhecer o lugar onde os corpos estão por não terem tido participação nesta parte do plano. Dizem ainda não saber do paradeiro de seus comparsas que desapareceram apó o fim dos serviços prestados.
As famílias estão revoltadas com o ocorrido, ainda que o caso gere discórdia entre os moradores, já que parte dos mesmos já não suportava mais os garotos gritando na janela toda manhã e acreditam que o extermínio deveria ter sido maior, "talvez tendo adicionado o pentelho do 203 e os desordeiros do 54", como conta a dona de casa V.S. de 78 anos.
O caso segue em investigação e aguarda julgamento.

24 de outubro de 2009

Sobre o olhar e o que não pode ser dito


Resolvemos comer comida mexicana, com burritos, chilli e nachos.
Sentamos perto da janela, lugar mais arejado do pequeno restaurante que sucumbia frente ao calor de trinta graus daquela tarde.
Estávamos a vontade, observando as pessoas que passeavam na rua Augusta na tão conhecida hora do rush da região da avenida Paulista, mas não tinhamos nada por fazer naquela tarde de sol, o que nos tornava iscas fáceis para nossas vontades já tão visíveis em cada sorriso.
Momentos antes, em uma loja de artigos para artistas, não saiamos um do lado do outro, percorrendo cada corredor com tamanha calma que chegava a assustar os vendedores.
Abri meu refrigerante e lhe ofereci um gole, iniciando o processo de educação familiar de sempre oferecer e sempre negar.
Começamos pelos petiscos envoltos em cremosos molhos de queijo e salsa, enquanto conversávamos sobre assuntos diversos, sempre tendo aqueles pequenos contatos de olhos no olho e de fuga do olhar, por uma vergonha indecente, como quem sai nu na rua.
Mas éramos dois olhares lutando por conquista, a mesma conquista, tentando invadir um ao outro e descobrir as reais palavras e sentimentos por detrás de cada sorriso e cada retirada de aproximação. Uma guerra inútil onde perdedores e ganhadores são sempre os mesmos.
Comentávamos sobre musicas, sobre pessoas, sobre lugares que tinhamos vontade de conhecer, sobre futuros incertos ou inevitáveis, sobre o lugar de onde viemos e o lugar onde íamos parar.
Contamos histórias um ao outro, falamos do que tinhamos medo e do que mais gostávamos, e em determinado momento, como prega o manual de instruções dos futuros casai em fase de conhecimento mutuo, um silêncio pairou.
Um silêncio repentino, meio descompromissado, forjado na lei na inevitabilidade onde os assuntos acabam, e só nos restou olhar um ao outro, na espera pela próxima frase, e ela veio, tão sutil como a vontade de simplesmente nada mais dizer e apenas apreciar a companhia.
Tal frase não pode ser dita, não existem palavras que formem uma expressão tão singela, pois só pode ser entendida através do pensar e do saber que a pessoa a sua frente pensa exatamente o mesmo, e não encontra meios de dizer.
E nesse momento, nesse delicado momento, somente um sorriso tem o poder de entregar ao outro a cumplicidade existente na troca de olhares.
Desse dia em diante tivemos o prazer de dividir vários momentos dessa natureza e posso dizer que agora estou feliz.

21 de outubro de 2009

Espartano

Muitas coisas mudam, e não é necessário muito tempo para que a vida das pessoas vire de cabeça para baixo ou tornem a ficar tranquilas.
Além disso temos muitos desejos e vontades que se realizam ou não, dependendo do quanto estamos dispostos a lutar.
Eu sou um lutador, e usando um conceito de meu pai, sou espartano até, pois vivo uma vida dura, as vezes suportando pacientemente certos encargos para conseguir algo para meu futuro, e dou meu sangue pelas coisas em que acredito.
A pouco tempo atrás duvidei de minhas forças e minhas vontades, e foi então que alguém apareceu e me explicou que na realidade tudo pode dar certo, de uma forma tão simples e pura que dificilmente eu entenderia sozinho, ou sequer chegaria a pensar a respeito.
E então vieram as provações.
Queimei meu pé e passei um tempo afastado do trabalho, fiquei doente e fiquei mais um tempo afastado do trabalho, trabalhos da faculdade se acumularam em minha mesa - ateliê, fui assaltado uma vez e perdi celular e outros equipamentos, fui assaltado novamente menos de duas semanas após a primeira ocasião, perdendo um jogo de lápis especiais para desenho e alguns livros muito importantes, fiquei transtornado e então tudo fez sentido.
o tempo que passei afastado serviu para me centrar e ver o peso das minhas responsabilidades, ficar doente me fez ver o quanto minha saúde precisava de atenção, o acumulo de trabalhos foi solucionado em uma tarde maravilhosa de domingo em companhia de amigos maravilhosos e ser assaltado me proporcionou duas coisas incrivelmente importantes.
Primeiramente a necessidade de focar em meus gastos e cobrir todos os buracos e pendencias monetarias que tinha até então, transformando o mês que era para ser cheio de gastos em uma espécie de poupança forçada e me dando meios de readquirir meus lápis, e em segundo lugar me proporcionou ficar ao lado de pessoas importantes, de descansar, de escutar alguém que me ensinou a ver as coisas de uma forma mais simples do que eu conseguia ver.
E toda a reviravolta que eu pensava ter posto minha vida de pernas para o ar, apenas a colocou de volta nos eixos, me mostrando vários outros caminhos para seguir em frente.
Talvez eu não seja tão espartano como meu pai diz, mas entendo cada vez mais o porque das minhas lutas pessoais.