14 de janeiro de 2011

Seu Oswaldo: O inicio

Mamãe sempre disse que seu garoto ia subir na vida, ia ter uma vida boa, que não teria um empreguinho de merda na pastelaria do tio, mas sim uma carreira divina em alguma empresa em crescimento. De certa forma, ela acertou.

De certa forma.

Foi concebido dentro de uma kitnet apertada da Avenida São João, assim, meio sem querer, uma tosse inesperada, como um espirro, como quem engasga ao tomar água muito rápido, mas muito rápido mesmo, o bastante para seu pseudo pai sumir de vergonha sem nem mesmo deixar telefone de contato ou o valor da hora completa que pediu e não consumiu. Os cruzados largados sobre a cama não pagariam nem o rolo de Primavera do banheiro, quanto mais o custo que aquele novo rebento iria trazer quando viesse ao mundo

Custando caro ou não, veio ao mundo.

Orgulho da mamãe, Oswaldo era alto e obeso quando pequeno, cabelo cortado na tigelinha não porque gostava, ou porque sua mãe queria, mas sim porque era o único corte que servia para melhorar aquele cabelo seboso em sua cabeça redonda.

Por mais que tenha passado sua infância sonhando em ter um topete a lá James Dean e costeletas de Elvis Presley, seu futuro reservou uma careca oleosa e brilhante.

Mas não vamos nos acelerar, afinal, seu futuro promissor depende muito do que foi o garoto Oswaldinho!

Na escola, tendo ai seus quinze anos, contrariando todas as expectativas, se embrenhou no futebol, participando dos campeonatos inter-classes e das peladas programadas durante as férias.

Jogava no gol como ninguém mais jogava. Os outros goleiros pegavam ali algumas bolas, defendiam seus gols com unhas e dentes, enquanto o Oswaldinho, moleque danado, se jogava nas bolas com tamanha facilidade e desenvoltura que se antecipava, voava dois metros a frente, minutos antes do chute final do atacante e tomava o golaço. Ele era bom, tinha certeza disso, afinal ele iria alto, ele voaria se fosse preciso, e voava... bem longe...

Na formatura do colégio, para orgulho de sua mãe, Oswaldinho (carinhosamente chamado de Tropeço) foi lembrado pelos coleguinhas em uma homenagem espetacular.

Ganhou troféu de goleiro mais vasado, tapinhas saudosos nas costas por suas médias suadas, medianas, meia boca e mediunicas, porque alguém ou alguma coisa deveria te-lo possuído na hora da prova para que se safasse de repetir e repetir inúmeras vezes certos anos, pelo menos foi a conclusão a qual chegaram seus professores.

Para sua mãe, além de popular entre os amiguinhos o garoto agora era médium, que coisa maravilhosa, que presente lhe foi dado!

Após a formatura, todos lhe deram boa sorte de alguma forma. Desejaram com risadinhas, com apertos de mão, com tapinhas nas costas, com pacotes de farinha de trigo, com caixas inteiras de ovos, com pontapés e sopapos, com hinos infantis cheios de palavrões cabeludos e o desejo de só o encontrar muitos anos a frente em uma pagina do jornal, de letrinhas pretas miúdas, onde enfim sua trajetória terminaria de forma brilhante.

O obituário.

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