7 de abril de 2008

A Fuga de Erika

O ventilador no teto do quarto girava lentamente lançando um vento quente sobre o corpo da garota deitada na cama.
Era apenas mais uma noite de verão para a garota que apenas conseguia manter seus olhos presos na lâmpada do ventilador que piscava e oscilava algumas vezes.
O nome da garota... Bem, ela não queria lembrar. Já não agüentava mais ouvir seu nome sendo chamado todo o tempo, sem a mínima pausa para descanso.
Já passava das três horas da madrugada e na televisão ligada o canal estava fora do ar e fazia um chiado irritante ao ponto da garota se levantar nervosa para desligar o aparelho.
Ao se levantar, seus cabelos desceram pelos ombros e alguns fios cobriram seus olhos. Usava uma camiseta pólo muito amarrotada e um bermudão cinza que cobria seus joelhos. Seus pés cansados e descalços se arrastavam pelo chão e de vez em quando, numa tentativa de diminuir a dor, abria os dedos e tentava encostar o dedão na sola do pé.
Após desligar a TV, andou até a cozinha e, abrindo a geladeira, pegou uma garrafa de leite e se voltou para a secretaria eletrônica em cima do balcão. Apertou um botão para voltar a fita e logo apertou outro para que a mesma iniciasse a falar os recados guardados.
Quando a fita começou a rodar, a musica Born to be Wild do SteppenWolf toca alto e começa a baixar dando lugar a voz doce da garota que dizia: “Você ligou para falar comigo, mas como vê, estou muito ocupada para te atender agora. Deixe um recado que se eu tiver paciência eu ligo mais tarde.”
Depois um sinal tocou e outra voz começou a falar.
“Erika? Está ai? É claro que não... Olha, sei que está cansada e que o ultimo show foi foda, mas você não pode deixar-se abater por aquele merda do Eduardo. Amanhã tem show de novo, então tenta não por tanta raiva na guitarra porque não temos grana para comprar uma nova”.
Mais um sinal e a fita continuou.
“Senhorita Érika, aqui é do Banco Central e estamos ligando para lhe informar que mais uma parcela do seu aluguel acaba de vencer. A senhorita tem até a próxima terça feira para efetuar o pagamento das seis primeiras parcelas ou nos dar sua posição, caso contrario estaremos iniciando o processo de despejo. Tenha um bom dia!”.
Erika fez uma cara de raiva, tomou um gole de leite e ouviu o próximo recado.
“Oi, aqui é o Eduardo, vou ser bem rápido, quero minha TV, os discos do Smiths e do Cult de volta, tudo para amanhã sem falta, certo? Tchau.”.
Nesse momento, Erika pausa a fita antes de começar outro recado, volta ao quarto, arranca a televisão de cima da mesa e, num único movimento, a arremessa pela janela e a observa cair do 10º andar e chocar-se contra o chão. Voltou a cozinha e apertou o botão “play” da secretaria.
“Hum?, que telefone é esse?, ou droga, liguei errado, desculpe”
- Otário... – disse a garota que agora mastigava um velho pedaço de pizza que estava na mesa.
“Dona Érika, meu nome é Carlos, sou assassino profissional. Se precisar de meus serviços, meu telefone é...”
Érika aperta o botão para o próximo recado.
“Alô, aqui é do Hospital Geral. Estamos ligando para avisar a senhorita Erika Monzano que seu noivo Eduardo Figueiredo sofreu um grave acidente de moto esta tarde e foi preciso fazer uma operação de emergência, na qual ele não resistiu. Ele faleceu as 21hs. Meus pêsames.”
Com um sorriso sarcástico, Erika anda até a janela do quarto e, mais uma vez olhando para os restos da televisão e diz:
- Droga perdi uma televisão novinha!!!

Um comentário:

Charlotte disse...

Ei, você me dá medo às vezes, sabia?
rs