6 de abril de 2008

O pensamento e as sementes do mal

Uma das minhas habilidades que sempre me orgulhei em ter, talvez até a que mais me animava e me servia a qualquer momento era a habilidade em escrever, em especial a habilidade que me dava esse poder, que era a possibilidade de pensar.
Não digo apenas pensar sobre coisas simples, como que eu faria na manhã seguinte, mas pensar e progredir, como o que eu faria na manhã seguinte, caso essa fosse minha ultima manhã.
Meus pensamentos dirigiam minha vida. Guiavam minhas atitudes por todos os caminhos em que me encontrava, como uma espécie de plano b que sempre estava ali presente, talvez sendo mais plano a do que b, já que minhas decisões sempre se entregavam a isso.
Essa estranha habilidade de pensar, combinada com meu desejo tantas vezes caótico em imaginar as coisas diferentes, me deu o que costumo chamar de sementes do mal.
Todos os acontecimentos de minha vida, tanto aqueles de que tinha controle até os que invariavelmente não dependiam sequer de um movimento de minhas mãos passavam por uma espécie de filtro em minha cabeça, onde eu designava todas as possibilidades para tal fato ter ocorrido. Não que, dessa forma, eu virasse um adivinho ou algo do tipo, mas sim conseguisse analisar cada ocorrência como uma terceira pessoa a olhar, de fora, como uma sombra vê a arvore se modificar em contato com o mundo.
Da mesma forma muitas dessas analises não tinham tendências muito positivas, tendo sempre certo grau de negativismo associado ao pragmatismo. Dessa forma eu tentava me proteger e ver sempre o lado bom.
Em minha cabeça as coisas funcionavam como ter o lado ruim para ver o lado bom, mas nunca me veio ao pensamento a possibilidade do contrario, do ter o bom e ver o ruim, como uma certa indiferença pelo fato de finalmente tudo começar a dar certo.
Como se minha mente tivesse associado que era preciso errar para aprender e que o acerto era uma fuga da necessidade de aprender, era uma tentativa baseada em sorte para algo quer no futuro viria a dar errado, como numa espécie de lei de Murphy vivenciada.
Meus pensamentos, aos poucos se transformavam em uma arma contra mim mesmo, onde eu evitava aos outros por medo de acertar, evitava até a mim mesmo. Minhas sementes do mal começavam a brotar pouco a pouco em meus olhos e tornar-se cada vez maior, e o grande final veio na forma de um engano.
Pelo meu caminho encontrei pessoas que, assim como eu, também tinham essa estranha habilidade mais aflorada, e o contato com elas me fez perceber o quanto era perigoso essa arma que tínhamos a nossa disposição, pois ao mesmo tempo em que levantamos possibilidades para as coisas que ocorrem, ou seja, quando buscamos analisar a fundo cada acontecimento para tentar descobrir seus porquês, logo acabamos julgando tudo e todos os envolvidos, e como eu disse, a verdade que vem a tona dificilmente será algo positivo pela necessidade que muitas vezes temos de acreditar em algo ruim.
As sementes do mal então projetavam enganos nucleares, capazes de terminar com quaisquer possibilidades positivas e até com sentimentalismos. De uma hora para outra, me vi disparando todas as minhas armar ao encontro de projeteis disparados por outros, e entre mortos e feridos, agora tenho imenso prazer em dizer, me feri sim, mas sai ganhando. Aconteceu algo ruim, e o oposto logo me apareceu, pois o lado bom viria em breve.
Hoje, tendo percebido a forma como as sementes do mal agiam, tenho plena certeza de que tenho meus pensamentos e meus desejos sobre controle, tanto que é devido a esse controle que a muito não consigo escrever nem ao menos um parágrafo sobre o que vejo e o que vivencio, mas aprendi que posso aprender com os erros, sem esperar que eles afetem minha vida para tomar alguma atitude.
Um dia vi em um muro da cidade uma frase pintada a spray preto que dizia: Antecipe a próxima jogada.É isso o que tenho feito desde o fim das sementes do mal.

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