11 de abril de 2008

Recomeço


O jornalista na televisão terminava sua ultima frase antes de concluir a finalização do telejornal, dizendo que “ficava por aqui”, mas aquele rapaz sentado ali em frente se recusava a concordar e aceitar aquele como sendo seu próprio destino.
Ele não podia simplesmente ficar por lá, deixar que o universo pesasse de forma avassaladora sobre suas costas e simplesmente dizer, ok, esmague mais uma costela. Ele tinha de fazer alguma coisa.
Ele se sentia mal ainda, com um resto de dor de cabeça provocado pela ressaca da noite anterior. Não se culpava por essa atitude, mesmo que sempre pensara negativamente a respeito de se afundar na bebida como forma de afogar as magoas.
A bebedeira da noite anterior serviu de fato para acorda-lo, mostrar que ele não era fraco e que tudo não poderia acabar só porque dois ou três homens resolveram de uma hora para outra cortar os fios que seguravam uma de suas marionetes. Boneco esse que agia da forma mais correta possível, sempre bondoso e honesto e que criou em seu espírito uma pequena semente de ira contra esse lado heróico, porque, afinal de contas, nem todos os heróis são bonzinhos, e agora ele sabia que não precisava mais ser assim.
Era uma mistura de sensações, entre pensamentos confortáveis de estar livre da obrigação diária de ter de fazer café para um gordo de óculos até a mais penosa que é pensar que no final do mês as contas não tardaram em atormentar. Mas o mais incrível de todas as sensações, a que ele sentia com maior força era a de estar flutuando, sentir-se como em um sonho prestes a acordar e ver que já são seis da manhã e é hora de acordar para ir trabalhar. Sensação essa quase como se estivesse vivendo duas vidas, de estar quase que ligado a uma realidade paralela e que os rumos teriam se unido, como algo inevitável, algo que deveria acontecer em qualquer uma vida possível, de qualquer caminho que pudesse ter escolhido desde seu nascimento.
Se tudo aquilo tinha de acontecer, ele pensava consigo mesmo, era um grande mal inevitável, mas grandes homens eram feitos de atos inovadores, são conhecidos as vezes por terem dado passos maiores que as próprias pernas e alcançado seus objetivos, e mesmo quando tudo dava errado, foram homens o suficiente para dar os próximos passos e seguir adiante.
Ali sentado, digitando seus pensamentos, ele compreendeu que nada é por acaso, que ele poderia confiar em sua força, em sua garra e em seus atos. Ele tinha uma família agora, pessoas que gostavam e se preocupavam com ele, e que, unido a tudo isso, ainda existia as palavras de uma mulher em sua cabeça, dizendo que o caminho que ele seguiria traria muita felicidade para sua vida.
Era nisso que ele ira pensar dali em diante.

Um comentário:

Charlotte disse...

Estou me perguntando há pelo menos uma meia hora. O que de você há em suas palavras? Qual o limiar entre a ficção e o autobiográfico?

Mas não me preocupo, como vc mesmo diz, temos a vida inteira para descobir...