A imagino deitada sobre a cama, tão leve a ponto de nem ao menos amarrotar os lençóis.
Tão dócil, olhos fixos nos meus, como uma canção que busca seu interlocutor de forma inevitável.
Luminosa, transformando o gélido ambiente em um coração batendo as pressas por um pouco de calor.
Pele macia e confortável ao toque.
Cabelos esses espalhados sobre as costas nuas, envolvendo os ombros como uma gentil carapaça pronta a se remontar em outro ponto.
Mãos baixo ao rosto, num travesseiro naturalmente mais suave e aconchegante.
Quantos pintores, após dezenas de taças de vinho, se colocariam a disposição para pintar com tal falta de modéstia aquilo que por si já pareceria ao mundo verdadeira beleza emoldurada num sorriso?
Quanto restaria aos poetas então tentar descrever essa poesia pronta aos olhos, ainda que os mesmos não consigam traduzir em suas rebuscadas palavras tais aromas presentes nesse corpo puro, entregue aos cuidados da brisa matinal?
Não diga nada, eu peço com estranha determinação.
Observo o quadro despertar para os primeiros raios de um sol implacável, e como feito de areia, se desfaz frente meus olhos, tornando-se aquilo que sempre tenho ao fim de meus devaneios.
Deito a seu lado e deixo que me abrace.
Como a solidão me parece bela, ainda que mortal ao fim de uma noite de insónia...
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