1 de março de 2009

Eu Quero Acreditar


A vida para mim é como um capitulo longo de Arquivo X, onde aquela frase, “eu quero acreditar”, me acorda todo dia pela manhã com um ruído constante de motores e pneus raspando o asfalto na Nove de Julho.
Me levanto, faço um café medíocre frente a todos os conhecimentos adquiridos em seis anos de trabalho com café, mas é valido, serve para acordar minha alma perturbada.
Um banho quente, o fazer a barba e acertar as costeletas, escolhe lá uma roupa no meio de tantas outras roupas por passar, uma meia e tênis vermelho no pé, esfrego as olheiras e vou trabalhar num horário fora do normal, já que não fui feito para a luz do dia, muito menos para acordar cedo.
É sábado e os ônibus estão vazios para o sentido que vou. Sento numa poltrona qualquer, coloco meus fones de ouvido numa bossa nova, abro um livro e tento me concentrar nas letrinhas saltitantes.
Sabia que não deveria estar ali naquele momento e sim em outro lugar muito mais agradável, fazendo aquilo que mais gosto que é cuidar de outras pessoas, família, mas de qualquer forma é preciso trabalhar e disso não posso escapar, ainda mais quando sou requisitado no momento mais inoportuno.
Vou telefonar assim que chegar, pedir desculpas, que sinto muito por tamanha lei da inevitabilidade, prometer o domingo, dizer que acordo cedo e vou na primeira hora, mas a realidade é assustadora.
Tanto por fazer, planilhas por montar, cardápios para revisar, contagem no estoque, toma uma coca cola como quem desfruta um banquete no almoço, e sigo firme até o escritório ficar vazio, com o silencio interrompido apenas pelo ronronar do computador e da impressora que cospe folhas no fundo da sala.
Pego o telefone, disco desesperado e sinto uma bala cortando meu cérebro em dois.
Poucas frases do outro lado, um frio assustador, conversa que mais parece um monólogo interrompido por respostas monossilábicas, e então uma frase que foge ao padrão.
“Eu não acredito em você, nunca acreditei, mas isso não é novidade, certo?”
O que restava de mim vai por água abaixo.
A muralha impenetrável mostra sua falha e é derrubada a duros golpes de aríete, mas não faz mal.
Desde o principio, nunca ninguém acreditou em mim, que eu poderia chegar tão longe, e essa foi a força motora para tudo, por pior que isso seja, porque tenho a leve impressão de que tudo o que fiz até agora não foi por mim, mas para ganhar o desafio lançado por terceiros, de que eu acabaria jogado no meio fio segurando uma garrafa de cachaça barata e cigarros amassados que teria ganho de qualquer passante casual.
Não me importo, desligo o telefone, derramo ali algumas lágrimas, sofro com a ideia de que todas as cartas que coloquei tão descaradamente na mesa, mostrando quem eu realmente sou, foram queimadas por um ás na manga.
Não me importo, digo novamente, termino de consumir a garfada de catarse entalada na garganta, volto minha atenção novamente para a tela branca do computador e percebo que a vida prossegue depois dos comerciais, num novo episódio, mas que canta uma pergunta.
“Até quando vou acreditar?”

Um comentário:

Ana P. disse...

Difícil.

Bem difícil.

Pq eu mesma tenho dificuldades em confiar nas pessoas. Mas quando eu resolvo que vou confiar, confio. Esses probleminhas da vida são contornáveis.

Não acredito em alguém que traia, por exemplo. Ou que diz que ama, mas não sabe nem qual é meu maior trauma de infância.

E principalmente, não consigo confiar em quem não confia em mim.