20 de março de 2009

Havanos

São duas da manhã
No piso térreo de um flat da região dos Jardins, um lugar recebe a visita de quatro personagens inusitados.
É um lugar pequeno, todo a meia luz. Sofás de couro escuro, mesas de mogno, pequenas lamparinas, tapete clássico de filme anos 40, e não estranharia nem um pouco se me deparasse com um sujeito trajando capa de chuva, chapéu baixo sobre a cabeça, whisky cowboy e um charuto no canto da boca, com um distintivo do DPLA, sentado em uma das banquetas confortáveis do bar.
Escolhemos um conjunto de poltronas mais afastadas da entrada, em um local pouco visível, dando ar de chefes da máfia italiana.
Uma atendente veio ao nosso encontro:
- Boa noite senhores! O que desejam?
- O de costume. Traga quatro Havanos, uma água e quatro doses de whisky.
Quatro homens distintos, cada qual com seus problemas, com suas responsabilidades, com seus fantasmas atormentando suas cabeças como ratos destruindo um pedaço de queijo solto na rua.
Eles são homens sim, são seres humanos, e como tal não poderiam deixar de sofrer, e aquele lugar serviria como abatedouro para suas más lembranças e tudo aquilo que lhes faz mal.
A atendente acende delicadamente os charutos para os rapazes, enquanto um pequeno ritual tem inicio.
Um gole de água, um brinde as coisas mortas da vida, um gole de álcool que desliza e esquenta a garganta, um trago em um legitimo Havano feito a mão.
O sabor invade, extermina os maus presságios, arranca das profundezas de nossos pensamentos qualquer coisa que possa nos torturar dali em diante, abrir a boca, fumaça se esvai, e tudo o que era ruim, morre no ar como uma sombra frente as lamparinas.
Poderiam conversar sobre musica, sobre filmes em cartaz de diretores espetaculares, sobre pessoas que fizeram parte de suas vidas, sobre o que faria o mundo girar e ser da forma como é, filosofar sobre tudo e todos, mas preferem apenas permanecer calados, apreciar aquele momento como algo único.
São quatro da manhã.
Quatro cavalheiros a moda antiga saem da charutaria.
A chuva cai impiedosa, eles vestem seus casacos, pegam seus chapéus no cabide ao lado da porta, um cigarro, guarda chuvas abertos e o retorno a vida como ela deve ser.

2 comentários:

Ana P. disse...

Surgiu uma pergunta no final: como a vida deve ser?

Como eu já disse, eu num curti mto charuto da única vez que experimentei. Tem tb a questão de eu ter parado de fumar, talvez seja isso.

Mas eu sempre achei charuto mto clássico e mto homem mesmo, sabe. E muito reflexivo. E... bom, pense, guri. Já que o objetivo da noite foi pensar nos fantasmas, pense. E pense. E pense, mas muito. Vale sempre a pena pensar.

Piero M. disse...

É o que mais tenho feito Ana, pensar e pensar, e chegou a hora de tomar algumas atitudes, como me mudar, por exemplo!

A casa tá cheia de caixas! hahahaha

valeu!