15 de maio de 2009

Ao Dormir


Deito em minha cama, fim de madrugada.

Fecho meus olhos por um instante.

Na escuridão detrás das minhas pálpebras milhares de imagens se formam, contorcidas, desfiguradas.

São pessoas, lugares, palavras soltas, rostos sorrindo, gritando, a repetição de momentos novos e antigos, e em poucos segundos tudo desaparece.

A escuridão volta, mas não como aquele breu clássico por falta de luz, mas uma escuridão pálida, tons de cinza, como se na realidade fosse uma sala de paredes altas e fundo infinito por onde eu teria de utilizar de varias outras vidas para percorrer e conhecer, e uma estranha sensação que, num canto qualquer, alguém se põe de pé, me observando atentamente, braços cruzados, apenas aguardando o momento certo para movimentar-se em minha direção.

Não sei porque está ali, ou porque me observa, mas esteve sempre ali. E ainda que hoje eu já tenha me acostumado com sua imagem aparecendo como um fantasma que desaparece ao ser percebido, permaneço atento a qualquer movimento seu, por mínimo que seja.

Me atacando ou me protegendo, é bom manter a sensação que o tenho sob controle enquanto o tenho em meu ângulo de visão. Se é que posso chamar isso de ver alguma coisa concreta.

Logo mais as sensações mudam, uma explosão de cores fortes, como se eu estivesse dentro de um acontecimento terrível, de observador.

Tudo se move com velocidade sem igual, não tenho tempo para me apegar a detalhes ou tentar descobrir o que se passa, mas apenas me concentrar para que não perca meus sentidos.

Mas é tarde porque sempre perco.

Me vejo em sonhos estranhos, onde pesadelos não me fazem ter medo, assim como sustos ou a morte.

Se levo um tiro, se me cortam, se me ferem de alguma forma, sinto meu corpo cair suavemente, como uma pluma encontra o chão, e me levanto em seguida como se nada tivesse acontecido.

Na grande maioria dos sonhos, perco a paciência, imagino que possa ter coisa melhor a fazer e começo a voar. Simplesmente vou para o alto, e para nenhum lugar em especifico. Apenas começo a voar, e essa é uma das melhores sensações que tenho quando sonho.

As vezes também encontro outra pessoa, sinto amor por ela, de uma forma tão pura, tão linda, tão repleta que desejo fortemente que tudo seja real, que não se acabe ao amanhecer, e tento o máximo possível segurar aquele momento, congelar toda a cena, ainda que meus esforços sejam em vão.

Não acredito que um dia eu seja capaz de sentir essas sensações maravilhosas enquanto acordado, mas meus sonhos lúcidos servem exatamente para me oferecer, em doses homeopáticas, essa lembrança de algo bom.

Meu celular vibra no chão de madeira quando chega a hora de despertar, fazendo um ruído que provavelmente iria acordar o morador do andar de baixo caso ele tivesse o mesmo relógio biológico insano que o meu.

Levanto calmamente, anoto os sonhos que tive em um bloco cinza, e vou tentando traduzir tudo o que vi ao dormir. Não que eu vá chegar em algum lugar, mas tem alimentado bem minha imaginação com coisas que poderiam bem ser verdade.

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