9 de maio de 2009

Carta aos Amigos

Queridos amigos:

Fico feliz que estejam bem ai, sentados nas arquibancadas dando seus urros de emoção enquanto aqui em baixo, nas trincheiras, enfrento saraivadas a todo instante.
O campo no qual caminho é largo, talvez maior do que minhas pernas possam percorrer, com trechos fáceis de ultrapassar e outros forrados de campo minado e outras formas utilizadas para massacrar qualquer louco o suficiente que se aventure.
Eu? Bem, tenho meu toque insano, e é o que tem me mantido vivo.
Os dias são quentes como o inferno e as noites gélidas demais, mas tenho conseguido superar bem esses problemas, pois não a nada que depois de algum tempo não se possa acostumar.
Não carrego armas, não tenho granadas presas na cintura, não uso colete e não passa por minha cabeça investir contra meu oponente, ou sequer me defender de seus ataques constantes, até porque nessa guerra sem escrúpulos, todos os disparos são feitos para o alto por uma razão de distancia entre atirador e alvo que nunca será percorrida.
Precisão é um sonho para aquele que aperta o gatilho tão pretenciosamente.
As vezes interrompo minha caminhada para observar vocês ai, sentados tranquilamente, mastigando um sanduiche, bebendo um refrigerante, conversando entre si sobre o episódio de ontem da novela das seis.
Não os culpo, e de qualquer forma nem poderiam me ajudar, da mesma forma que eu não poderei quando a situação inverter e eu me tornar um desses espectadores.
Cada um trava suas próprias batalhas com as forças que tem, e cada um sabe bem as dificuldades, as dores e as injustiças as quais somos passivamente domesticados durante tanto tempo para aprender no fim das contas que alguma lição poderemos tirar disso tudo, ainda que seja algo inútil.
Quanto a meu inimigo, ele é um só, disso eu bem sei. O problema real é definir quem é, tendo em vista que em determinados momentos pode ter minha aparência, e as vezes ser exatamente quem eu menos espere que seja, como agora, por exemplo.
Mas dentre tantos problemas, esse é o menor deles.
Fico contente por vocês estarem ai, todos muito bem, apreciando essa perda de tempo que ocorre aqui nas trincheiras.
Assim que possível mandarei novas noticias e não se preocupem comigo. Vou ficar bem!

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