10 de janeiro de 2009

Começo de Dia (2)

Acorda cedo, ao menos é o que pensa.

Atrasado, pão com manteiga roído, café com leite siberiano, dois quilos a menos no corpo até a próxima semana.

Banho de gato, barba feita na base da facada, repleta de sangue e falhas, veste uma camisa de ontem, suor puro, paletó atropelado por um trem.

Sai na corrida, duas voltas de chave na porta, desce as escadas pulando amarelinha, um aceno pro porteiro, um sorriso pra gostosa do 101.

Dobra a esquina, dobra o pescoço com a gravata apertada, empacota o sapato na merda, uns palavrões, foda-se, limpa no meio fio ou no emborrachado do chão do ônibus.

Desce a rua no tranco, dobra a esquina, se pergunta quem foi o filho da puta que fez o ponto de ônibus justo em cima de um viaduto e sobe as escadas sentindo os joelhos arderem.

Segunda feira de merda, ponto cheio de gente feia, bem diferente da noite de bebedeira tida no domingo. Salve seu Jorge e as brejas geladas, mas só mais uma semana até lá.

Mercedes Benz coletiva, lotada, um maníaco flatulento, uma senhora e sua tupperware gigante cheia de pães de queijo flascidos, um “mano” e seu celular novo tocando num linguajar que todos gostariam de não escutar, mas que infelicidade, não dá para tapar os ouvidos, não tem espaço para levantar os braços.

E maldito é aquele que consegue, pois justo ele esqueceu de passar aquele perfume decente, ainda que comprado em lojinhas de 1,99.

Desce no ponto certo, ele e mais três, três por força de vontade, força da porrada. Peguem outro ônibus para chegar no inferno.

Ruas cheias, silêncio só para surdos, um esporro de conversas e frases soltas, anúncios, fumaça, uma esmola para um velho, convertida em cachaça no fim da tarde.

Entra no edificio, elevador velho, ar condicionado seria uma bênção, todo mundo colado, alguém pensou em sardinhas?

Ervilhas ele pensa, amontoadas em uma lata, óleo feito de suor por uma dúzia de espertinhos como ele que resolveram esticar os cinco minutos.

Sai no trote, bate o ponto como jogador experiente de truco, um tapa na maquina, e está tudo resolvido.

Entra no escritório, aceno para o amigo de sala, sorriso para a secretaria gostosa do chefe, um apanhado de pastas sobre a mesa, um computador fazendo um som grotesco, jornada de oito horas mais hora de almoço no inferno corrosivo do centro de São Paulo, e logo, o retorno para casa.

Isso é que é vida, senhoras e senhores!

3 comentários:

Ana P. disse...

Vendo e relembrando das coisas que eu já passei na vida.

E eu querendo voltar pra esse passado de subvida. Hoje trabalho perto de casa, saio daqui meia hora antes de marcar o ponto, só pra não perder o ônibus, pq se eu tivesse carro, poderia sair quinze minutos antes.

Vida boa?

Se for considerar só o trajeto, sim. Se for considerar o período de trabalho... hum... ¬¬

[achei o email do Jorge Tadeu! HAUHAUHAUHAUHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA!]

Leão,Um Moleque disse...

Bem. Juro que nunca passei por isso, mas devo confessar que sei que é verdade. AGORA uma coisa é facto: Tá bem descrita pra C......,á isso tá. Leão, Um Moleque.

Nina disse...

Adorei, cotidiano descrito perfeitamente, fato.

Vc escreve bem paca.

Pqp.

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Beijocas