8 de janeiro de 2009

Invasora


Noite vazia e eu em casa perdido entre textos para escrever, filmes para assistir e musicas tocando numa série interminável.

Cansado, pensando que deveria fazer algo melhor com minha folga do que simplesmente permanecer sentado no sofá, decidi visitar aquele boteco que tanto me agrada, onde certamente tomaria minha cerveja tranquilamente enquanto despejaria minhas letras miúdas no papel.

Pouco tempo mais tarde, cheguei e fui bem recepcionado. Minha mesa prediléta a postos, o garçom de sempre já vinha lá de longe com a garrafa estupidamente gelada e um copinho americano a tira colo.

Sentei confortavelmente, saquei minha agenda, destampei a caneta e ia começar a escrever muito em breve.

Foi então que chegou um visitante inesperado. Uma visitante na realidade.

Sentou sem ser convidada, se espalhou como se estivesse em casa, dona da situação, me olhou nos olhos, e ficou ali, se balançando de um lado para outro, esfregando suas patas nojentas, como quem se prepara para um banquete, ou o que lhe vier de sobras.

A cerveja foi posta sobre a mesa, derramada no copo, e ela nem se movimentou. Seguiu firme onde estava, apenas observando meus movimentos, como dois pistoleiros na rua central esperando alguém sacar a arma.

Calmamente, levei meus dedos até o copo, ergui, e tomei um pequeno gole. E a estranha sequer fez menção de susto ou medo.

Porem, foi apenas repousar a bebida novamente na mesa que percebi o plano maléfico.

Em menos de dois segundos, a mosca parou na borda do copo, como quem diz:

- Ok, o primeiro gole é seu, mas não vou ficar fora dessa barbada! Deixa eu abiscoitar minha parte!

Injuriado com tal situação, afastei a mosca imprudente com a mão, num gesto único, iniciando a batalha pelo controle da cerveja!

Voava alto, pousando algumas vezes sobre minha cabeça, no canto da mesa, na garrafa, mas o copo era meu, e lá ela não chegaria.

Me lembrei daqueles desenhos do Tom e Jerry, ou Pica Pau, em que os personagens se degladiavam devido a presença de uma mosca invasora, que, geralmente, saia vencedora nos conflitos.

Mas não sou desenho, e aquela situação iria terminar.

Repentinamente, a intrigante monstrinha pousou em uma cadeira mais distante, em outra mesa.

O que tramava aquela vil criatura? Pelo que esperava? Achava que eu iria dar mole e deixar meu copo largado a sua mercê?

Ao longe, na porta de saída da cozinha, vi o Sr. Garçom sair com minha porção de provolone a milanesa, e foi então que entendi a jogada.

Inesperadamente, a mosca alçou voo, desviou de alguns contra tempos e pairou atrás do homem que carregava meu sagrado alimento, e foi apenas ele deixar o presente sobre minha mesa, que a vilã caiu sobre um dos queijinhos, sem a menor cerimonia.

- Primeiro gole é uma coisa, mas são tantos aqui que você terá de dividir... ; pensava ela, provavelmente.

- Dividir uma ova!

Afastei novamente com a mão, reiniciando a briga, tentando tomar conta do copo e da bandeja posta, foi então que, de saco cheio por tal situação, resolvi armar uma cilada.

Assim que a insensata mosca se distanciou novamente, fazendo seu turno de descanso, retirei um queijinho do monte, derramei algumas gotas de cerveja sobre a mesa, coloquei o pequeno artefato amarelo sobre a poça e aguardei.

Um Cavalo de Tróia perfeito eu diria, tanto que imediatamente a esfomeada pousou sobre o presente.

Toda minha raiva e desgosto foram parar em meu punho, para que, num movimento decisivo, detonasse como uma bomba sobre a mosca.

E assim foi.

Soquei a mesa com tamanha vontade de acertar que o copo de cerveja se virou, molhando a mesa, o chão, e consequentemente minhas calças. A bandeja virou, derrubando alguns pedaços de queijo também em meu colo.

E a mosca, bem, ela (ou o que sobrou dela) ficou ali, morta, esparramada entre os pedaços melados de queijo, e sinto que alguns pedaços de seu estranho corpo ainda permaneciam em minha mão melecada.

Agora a situação estava de volta ao normal, ainda que o garçom, enfurecido e sem saber o motivo da desordem, esperasse um caixinha gorda no final para limpar toda a bagunça.

Afinal de contas, alguém sempre espera ganhar alguma coisa com a desgraça alheia.

2 comentários:

Ana P. disse...

Pensei que eu era a única maluca que, sozinha em um restaurante ou ônibus ou trem, criava verdadeiras guerras entre eu e qualquer poeirinha que se alojasse por perto.

Eu num sei não, me perdoe por invadir seu espaço, mas... isso é coisa de gente MUITO solitária.

Espero que eu esteja errada...

Piero M. disse...

Solitario na medida certa eu diria!

Mas tenho essas sismas estranhas de vez em quando. Faz bem pro coração! hahaha

Alias, te mandei um e-mail... Faz uns dois dias...