Sentou-se no banco de concreto do parque.
Era cedo ainda, tinha lá umas duas ou três contas a pagar, uns amigos a visitar, almoço por fazer e um filme de velho oeste esperando para a noite solitária.
Pássaros cantavam alto em seus ninhos, um pato passeava tranquilamente pelo lago como se fosse sábado, uma brisa leve o saudava com um beijo no rosto e o sol caminhava todo cheio por entre algumas nuvens brancas. O céu estava azul e o dia se fazia lindo.
Ali, sentado sozinho, tirou os sapatos para sentir a grama fria por entre os dedos, retirou um lençol azul de dentro da mala, levantou-se, e estendeu o pano no chão.
Interessante para ele tirar aqueles momentos de tranquilidade, para ver que a terra continuava a girar fora de um escritório abafado.
Sentia-se sozinho, meio abandonado, mas não havia muito para se fazer. Pessoas muito atarefadas são como formigas carregando pedrinhas de um lado para o outro, sem muito tempo para interagir, e o que é pior, muitas delas nem pensam que isso seja possível naquele mundinho de terra marrom.
Foi então que, ali deitado, teve uma pequena sensação.
E se existisse mais alguém que fugisse a regra do “carregar pedrinhas”? E se mais alguém tivesse por um momento, assim como ele, fugido daquela rotina violenta e se deitado no mesmo lugar em que ele estava? Teria sentido a mesma coisa? Teria pensado o mesmo? Estaria a procura de outra pessoa? Teria coragem de seguir adiante?
Era como se tal pensamento fosse uma mensagem deixada por entre os galhos das árvores para ser entregue por aqueles pequenos Bem-Te-Vis., exatamente para ele naquele momento.
E que bela mensagem aquela, de uma paz de espírito plena, com nome e sobrenome, de desejos e vontades para saciar, de sonhos e palavras bonitas, um quadro todo especial, uma figura de perfeição.
E ele ali, podia sim ter errado o momento de aparecer pelo parque, já que pela mensagem ser unicamente para ele, minutos antes, horas ou dias antes, poderia ter pego seu semelhante no momento em que a deixava ali para ser entregue.
De certa forma, não tinha problema, pois se sabiam a respeito de suas existências, logo se encontrariam.
Uma conversa sobre o motivo da mensagem, do porque estarem sozinhos, sobre a felicidade de estarem juntos e sobre tudo o que podem fazer dali para frente.
Levantou-se calmamente, aproveitou o calor que chegava para tomar uns dois goles de água da garrafinha que trazia consigo.
Calçou novamente os sapatos, recolheu o lençol e pequenos pedacinhos de grama, e, instantes depois resolveu o que fazer.
Um Bem-Te-Vi cantava novamente nas árvores, mas agora era uma mensagem deixada por aquele rapaz que ia andando decidido de volta para a selva de pedras fora do parque.
Não tenha pressa, pois continuo a te aguardar, dizia a nova mensagem.
É tudo uma questão de tempo.
Um comentário:
É uma pausa na rotina, sempre faz bem. E sim... tem alguém, em algum lugar, pensando exatamente o mesmo.
É uma questão de tempo... e de distância.
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