Desceu do ônibus logo ali no ponto da Augusta.
Terno amarrotado, segurando a gravata aposentada, camisa aberta dois botões para baixo da gola, sapatos por lustrar, chapéu meio de lado, a lá “seja o que deus quiser”.
No primeiro botequim que avistou, parou para aquela dose diária de sanidade, composta por uma cachaça de boa qualidade com uma rodela de limão e seu inseparável pão “canoa” com manteiga, mas nada de chapa, para não perder a “crocancia”.
Sentou no banco alto perto do balcão, postado a meia banda, olhando ao redor, analisando o movimento dos primórdios da manhã.
- Solta lá uma coxinha dessas da vitrine seu Jorge, e manda aquele pretinho sem açúcar, que de doce já basta a vida.
Mentiroso descarado.
Dá uma mordida no quitute, mata o café em dois goles, aprecia a manteiga espalhada no pão e acaricia o copinho de cachaça com uma das mãos.
Acende aquele cigarro torto, quase dividido ao meio, duas tossidas, um guardanapo para a saliva, uma porção de tragadas, e está tudo certo.
Curtia ali o inicio do dia paulistano, de nuvens cinza asfalto, anunciando uma chuva chata de Janeiro, e, vai vendo, o guarda chuva esquecido no banco do coletivo.
Lembrava de uma musica de Chico, sobre um tal de malandro e se perguntava o que o camarada faria em tal situação, onde o faz de conta terminava de forma fatal.
- O que é que a vida vai fazer de mim?
Era só um louco a perguntar, pois Chico anunciou que assim seria.
Dá uma piscadela ao céu, pede a benção a quem quer que esteja a lhe observar, seja no espaço, no avião cruzando o céu ou no táxi descendo a ladeira.
Experimentou o aroma do liquido no copo e virou num gole único, para limpar toda e qualquer forma de maldade que fique no caminho de seus pensamentos, ou travando o caminho do estômago.
Agradece seu Jorge, uns trocados amontoados, um saquinho de moedas escurecidas.
Sai do bar, cospe no chão, eliminando traços do que futuramente poderia ser seu fim, dando ao caído um pedaço de si, como que dizendo: nunca me verá por estas bandas, porco bandido.
A chuva inicia seu choro lento, e vai ele descendo a rua molhada, sem aflições para um novo dia de luta.
3 comentários:
Caralho... é uma cena de cotidiano, que poderia ser de qualquer um de nós, mas... é tão paulistana!
É, aliás, MUITO paulistana!
Aliás, perdão pelo palavrão, sei me expressar bem pouco com palavras do tipo "puxa, que post legal". Parece mto falso, melhor soltar logo um "caralho", que certeza cê vai entender que eu me impressionei mesmo!
\o/
Como disse num ao comentar um de seus posts mais recentes, não tenho nada quanto a palavrões! Portanto, use-os!
Agora, o mais engraçado é que esses dias me deparei com uma cena muito parecida, e depois de ter escrito esse texto.
pensei, merda, preciso me renovar! hahaha
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