28 de outubro de 2009

Deu no Noticias Populares...


Sindico e porteiro de condomínio de alto padrão foram presos na tarde desta terça feira sob a acusação de assassinar a sangue frio cinco crianças, filhos dos moradores.
Em entrevista concedida ao repórter pelo delegado de plantão no ato da prisão dos meliantes, o sindico, de nome R.W., 57 anos, se sentia incomodado com um dos garotos que, por volta das oito da matina, saia na sacada e chamava o colega do prédio ao lado para brincar, sendo que o fazia aos berros.
O coleguinha em questão respondia a plenos pulmões, iniciando uma conversa duradoura que logo ganhava a participação das três outras vitimas.
O sindico, que tem problema grave de insonia, escapava nas primeiras horas da manhã para seu curto sono até as oito, hora de inicio da ladainha das crianças.
Foi então que resolveu exterminar os pobres garotos um a um e esconder seus restos mortais na fossa de um dos prédios, que volta e meia tinha problemas e entupia.
Para o serviço contratou o porteiro, J.B. de 35 anos, que também não tinha muito afeto pelas crianças (e que já tem passagem pela policia por contrabando de drogas e nudez em publico).
Os dois inicialmente atacaram três enquanto voltavam do colégio, cortaram os corpos em vários pedaços na garagem subterranea e esconderam na fossa.
Logo em seguida telefonaram para uma desentupidora de faixada, Limpa Fosso Ltda., que sabendo do ocorrido, se adiantou em eliminar qualquer evidencia antes que os pais aflitos pudessem perceber o ocorrido.
Durante duas semanas o caso foi taxado como sequestro e logo após por desaparecimento, já que não houve contato dos sequestradores.
As outras duas crianças foram pegas da mesma forma no mês seguinte, mas o trabalho de sumir com as pistas acabou por falhar, já que a mão de um dos garotos permaneceu entalada em um dos canos, sem que o bando percebesse.
Um dos moradores, incomodado por ver seu vaso sanitário entupido, contratou o serviço de outra desentupidora, que logo encontrou os restos mortais esquecidos na tubulação.
A policia foi chamada e os dois foram presos em flagrante, não resistiram a prisão, contaram em detalhes como armaram o plano e deram cabo dos garotos, e não sentiam qualquer remorso por suas atitudes, acreditando piamente terem feito um grande bem a humanidade.
Os responsáveis pela empresa Limpa Fosso Ltda. ainda não foram encontrados, mas a policia segue investigação para capturar os suspeitos de ajudar no crime.
Uma equipe especial segue em busca dos restos mortais das crianças, mas ainda não há suspeita de onde os corpos possam ter sido enterrados ou jogados. Os presos alegam não conhecer o lugar onde os corpos estão por não terem tido participação nesta parte do plano. Dizem ainda não saber do paradeiro de seus comparsas que desapareceram apó o fim dos serviços prestados.
As famílias estão revoltadas com o ocorrido, ainda que o caso gere discórdia entre os moradores, já que parte dos mesmos já não suportava mais os garotos gritando na janela toda manhã e acreditam que o extermínio deveria ter sido maior, "talvez tendo adicionado o pentelho do 203 e os desordeiros do 54", como conta a dona de casa V.S. de 78 anos.
O caso segue em investigação e aguarda julgamento.

24 de outubro de 2009

Sobre o olhar e o que não pode ser dito


Resolvemos comer comida mexicana, com burritos, chilli e nachos.
Sentamos perto da janela, lugar mais arejado do pequeno restaurante que sucumbia frente ao calor de trinta graus daquela tarde.
Estávamos a vontade, observando as pessoas que passeavam na rua Augusta na tão conhecida hora do rush da região da avenida Paulista, mas não tinhamos nada por fazer naquela tarde de sol, o que nos tornava iscas fáceis para nossas vontades já tão visíveis em cada sorriso.
Momentos antes, em uma loja de artigos para artistas, não saiamos um do lado do outro, percorrendo cada corredor com tamanha calma que chegava a assustar os vendedores.
Abri meu refrigerante e lhe ofereci um gole, iniciando o processo de educação familiar de sempre oferecer e sempre negar.
Começamos pelos petiscos envoltos em cremosos molhos de queijo e salsa, enquanto conversávamos sobre assuntos diversos, sempre tendo aqueles pequenos contatos de olhos no olho e de fuga do olhar, por uma vergonha indecente, como quem sai nu na rua.
Mas éramos dois olhares lutando por conquista, a mesma conquista, tentando invadir um ao outro e descobrir as reais palavras e sentimentos por detrás de cada sorriso e cada retirada de aproximação. Uma guerra inútil onde perdedores e ganhadores são sempre os mesmos.
Comentávamos sobre musicas, sobre pessoas, sobre lugares que tinhamos vontade de conhecer, sobre futuros incertos ou inevitáveis, sobre o lugar de onde viemos e o lugar onde íamos parar.
Contamos histórias um ao outro, falamos do que tinhamos medo e do que mais gostávamos, e em determinado momento, como prega o manual de instruções dos futuros casai em fase de conhecimento mutuo, um silêncio pairou.
Um silêncio repentino, meio descompromissado, forjado na lei na inevitabilidade onde os assuntos acabam, e só nos restou olhar um ao outro, na espera pela próxima frase, e ela veio, tão sutil como a vontade de simplesmente nada mais dizer e apenas apreciar a companhia.
Tal frase não pode ser dita, não existem palavras que formem uma expressão tão singela, pois só pode ser entendida através do pensar e do saber que a pessoa a sua frente pensa exatamente o mesmo, e não encontra meios de dizer.
E nesse momento, nesse delicado momento, somente um sorriso tem o poder de entregar ao outro a cumplicidade existente na troca de olhares.
Desse dia em diante tivemos o prazer de dividir vários momentos dessa natureza e posso dizer que agora estou feliz.

21 de outubro de 2009

Espartano

Muitas coisas mudam, e não é necessário muito tempo para que a vida das pessoas vire de cabeça para baixo ou tornem a ficar tranquilas.
Além disso temos muitos desejos e vontades que se realizam ou não, dependendo do quanto estamos dispostos a lutar.
Eu sou um lutador, e usando um conceito de meu pai, sou espartano até, pois vivo uma vida dura, as vezes suportando pacientemente certos encargos para conseguir algo para meu futuro, e dou meu sangue pelas coisas em que acredito.
A pouco tempo atrás duvidei de minhas forças e minhas vontades, e foi então que alguém apareceu e me explicou que na realidade tudo pode dar certo, de uma forma tão simples e pura que dificilmente eu entenderia sozinho, ou sequer chegaria a pensar a respeito.
E então vieram as provações.
Queimei meu pé e passei um tempo afastado do trabalho, fiquei doente e fiquei mais um tempo afastado do trabalho, trabalhos da faculdade se acumularam em minha mesa - ateliê, fui assaltado uma vez e perdi celular e outros equipamentos, fui assaltado novamente menos de duas semanas após a primeira ocasião, perdendo um jogo de lápis especiais para desenho e alguns livros muito importantes, fiquei transtornado e então tudo fez sentido.
o tempo que passei afastado serviu para me centrar e ver o peso das minhas responsabilidades, ficar doente me fez ver o quanto minha saúde precisava de atenção, o acumulo de trabalhos foi solucionado em uma tarde maravilhosa de domingo em companhia de amigos maravilhosos e ser assaltado me proporcionou duas coisas incrivelmente importantes.
Primeiramente a necessidade de focar em meus gastos e cobrir todos os buracos e pendencias monetarias que tinha até então, transformando o mês que era para ser cheio de gastos em uma espécie de poupança forçada e me dando meios de readquirir meus lápis, e em segundo lugar me proporcionou ficar ao lado de pessoas importantes, de descansar, de escutar alguém que me ensinou a ver as coisas de uma forma mais simples do que eu conseguia ver.
E toda a reviravolta que eu pensava ter posto minha vida de pernas para o ar, apenas a colocou de volta nos eixos, me mostrando vários outros caminhos para seguir em frente.
Talvez eu não seja tão espartano como meu pai diz, mas entendo cada vez mais o porque das minhas lutas pessoais.

8 de setembro de 2009

E Se?

E se um dia, qualquer dia, você resolva sair de casa como sempre fez, mas dessa vez observando a sua volta?
E se você olha a sua volta e tudo o que pode ver são pessoas correndo em direção a seus fins definidos?
Se um dia, de repente, você resolve sentar em um lugar diferente, seja no ônibus, na praça durante o almoço, ou uma cadeira vaga na sala de aula?
E se reparar que por ali tem alguém?
E se o olhar se cruzar e não conseguir desviar?
E se nas profundezas desse olhar você conseguir ver toda a sua vida passando como numa película noir e ter certeza que, do outro lado, a pessoa dona desse brilho intenso, também tem a mesma sensação?
E se você sentir que essa pequena ligação momentânea esconde muito mais do que você pode ver ou sentir em tão pouco tempo, sendo necessário se entregar cada vez mais a esse processo de hipnose tão raro?
E se você sentir seu corpo tremer, suar frio, se tiver medo, se tiver empolgação, simplesmente por receber um "oi", seguido do sorriso mais encantador que você irá receber em toda sua vida?
E se durante uma conversa você sentir afinidade perfeita, sentir-se repleto de felicidade e harmonia, tendo em vista que esse sentimento vem de alguém que você pouco conhece, mas que tem a leve sensação de que já conhece por inteiro? E sentir que tal pessoa pensa o mesmo, e sente o mesmo?
E se em um impulso, simplesmente impossível de se controlar, se atira em direção a uma boca, que o recebe delicadamente, com lábios macios?
E se você sentir que não apenas se achou, mas encontrou algo que a muito lhe tirava o conceito sobre viver?
E se você sentir que pode permanecer nesse estado eternamente?
Pode ser amor?

7 de setembro de 2009

Das Coisas Que Me Ensinaram e a Vontade de Viver

A gente sempre pensa que existe um lugar onde poderemos chamar de "porto seguro", para onde vamos correr quando tudo em nossas vidas der errado, tornando esse lugar em uma espécie de ponto de restauro das energias para se lançar ao mundo novamente e recomeçar.
Você carrega esse sentimento ligado a ideia de que seus pais serão sempre os mesmos, cuidarão eternamente de você enquanto lhes restarem um pingo de força nas veias, ainda que tal pensamento seja puramente egoísta.
Sempre desejei, contudo, que minha mãe fosse dona de sua própria vida, esquecendo esses laços e dando um basta em uma vida feita para servir aos filhos e a uma aposentadoria que nunca chegaria.
E quando esse momento chegou para ela, duas coisas ferveram dentro de meu peito, de forma boa e ruim ao mesmo tempo.
Ela conseguiu se aposentar, juntou algum dinheiro, fez um pequeno empréstimo, comprou um pequeno apartamento na praia e foi curtir sua vida, ao mesmo tempo em que colocou a casa em que vivemos grande parte de nossas vidas, a venda.
Fico imensamente feliz por ela, por essa decisão tão acertada, e ao mesmo tempo me sinto triste por saber que muito em breve não terei mais aquele lugar sagrado onde poderia retornar, mesmo que para relaxar enquanto meus irmãos brincam com os filhos ou armamos um churrasco improvisado em uma manhã de domingo.
Dentro de pouco tempo estarei por minha própria conta e risco, e tenho medo disso.
Da mesma forma me recordo de momentos interessantes em que, indiferente de meus medos, o futuro se mostrou tão certo como quem entrega não apenas o olhar ao horizonte, mas vislumbra tudo o que está além da linha que o distingue.
Me recordo das vezes em que, desanimado com quedas constantes, arranquei a bicicleta do meio de um aglomerado de tralhas do porão e fui pedalar até uma cidade vizinha, Paranapiacaba.
Estrada pura, poucos carros, tarde de sol forte e entardecer com direito a neblina, árvores e montanhas, sobe e desce, cerca de duas horas para ir e voltar, e a certeza de que ao desmontar de minha querida parceira, iria encontrar boas respostas para minhas indagações.
Aprendi isso com meu pai, e devo agradecer por isso.
Noutros tempos me recordo de chegar em casa do colégio e cozinhar, enfrentar as panelas e montar banquetes com direito a sobremesa, que geralmente era composta por torta de limão!
Sentia prazer em gastar aqueles momentos em que pensava rápido demais e tomava conclusões precipitadas em algo mais útil e relaxante, que logo me mostraria que para tudo é necessário ter mais foco, carinho, delicadeza e atenção.
Hoje me alimento e trabalho devido a essas lições ensinadas por minha mãe, e agradeço a ela por isso.
Do meu irmão mais velho encontrei a força para continuar em frente, não desistir, ser guerreiro não importa o que viesse a acontecer, e com muito prazer posso dizer que o tive como companheiro de trabalho em algo que nunca fui capaz de acreditar que ele poderia conseguir. Se apresentou em campeonatos, se saiu mil vezes melhor que eu, e é a ele a quem eu agradeço pelas lições de raça.
Meu irmão do meio, de decisões meticulosas, planejamento, de conversas em um apartamento no Brás a festas em lugares inóspitos. Entre musicas escritas em papéis velhos dentro de uma pasta preta levamos nossos raciocínios até planos mirabolantes e descobertas geniais, e a ele devo a curiosidade, o pensar, e o que mais tenho usado nesses últimos tempos, diplomacia.
Dessa minha primeira família consegui algumas armas que, nesse momento, me fazem acreditar nas possibilidades e nas saídas para quaisquer problemas que poderei enfrentar, então, por hora, estou em meu próprio porto seguro.
Logo, a sensação de perda que tenho por aquela casa grande demais para uma senhora morar, é mais por saber que durante muito tempo foi uma casa pequena demais para três adolescentes e uma mulher batalhadora.
Sentirei saudade, mas seguirei em frente, para que um dia eu mesmo possa ter meu lugar reservado frente a praia.

20 de agosto de 2009

Sono...

Segundo as regras da sociedade, das vontades superiores da família, dos desejos particulares de cada ser, e das ideias brilhantes quanto a ocupação de tempo gasto regularmente em baboseiras, o individuo abandona suas confortáveis horas separadas para hibernar com o objetivo de aprender coisas novas.
Diante desse fato, temos a situação a seguir.
O camarada tem vida noturna, trabalha enquanto os outros de seres diurnos estão se preparando para dormir, não se deita antes das três da madrugada, rola na cama durante um bom tempo, atingindo o sono esperado apenas nas primeiras horas da manhã, quando o sol pula fora para o céu.
Certo dia, não satisfeito, decide voltar a estudar! E de manhã!
Acorda (?) as seis da matina, babando, olhos vermelhos, remela em formação no canto dos olhos, ainda com bafinho de creme dental.
Tira a roupa quente, banho morno, copo de leite gelado, se arruma, joga o corpo na rua e segue para sua nova rotina.
Pelas calçadas se confunde entre vários outros zumbis que seguem tropeçando até seus destinos, manda um café para as profundezas de seu estômago, garantindo os próximos passos até seu destino.
Os cinco minutos de sono (?) a mais se transformam em atraso. Chega na sala de aula e senta em uma mesa mais afastada, onde, teoricamente, teria facilidade em tirar uma boa pestana.
Mas para sua surpresa (e desagrado), a querida professora pede que seus alunos afastem todas as cadeiras do centro da sala e sentem em circulo. Danou-se...
Tolerância, seus pensamentos pedem, afinal de contas foi ele mesmo quem escolheu estar ali!
E tolerância é justamente o que falta para seus dois colegas mais próximos: O sono de uma noite terrível e a fome referente a um café da manhã ridículo.
Os olhos ardem, forçam as pálpebras em uma luta constante para mante-las abertas, um bocejo escapa, a barriga ronca alto, proferindo um eco que vem do vazio em suas entranhas.
As palavras da professora sorridente vão em encontro a seu rosto violentado pelo desespero e a vontade de fugir de volta para a cama.
Se arruma na cadeira desconfortável, tenta prestar mais atenção, foca a visão nas palavras escritas no quadro negro e ai surgem outros problemas.
Focar a atenção consiste em ser permanentemente distraído por qualquer coisa que possa induzir ao sono.
Uma mosquinha passeia pelo chão em passinhos minúsculos, a cortina balança de um lado ao outro com o leve vento que entra por uma fresta da janela, o piscar da luz artificial quase que compassado, um leve raspar de pneus no asfalto em alguma rua distante e, o golpe fatal, pequenas gotas de chuva batendo contra o vidro da janela, provocando um som irresistível, quase como uma canção de ninar.
Os olhos fecham as portas, a cabeça pende ao chão, a mão desiste de dar suporte, e ai acontecem aqueles cinco segundos de pesca por um sono desatento, suficiente para todos ao redor perceberem o estrago.
Eis então que o grande guerreiro de sabedoria imensa cai diante de toda a fadiga adquirida nesse processo de estudar.

19 de agosto de 2009

Galáxia de Plástico


Mais uma vez
perdido em alto mar
em meio as brumas
uma maré incerta
Tenho lá
galáxia de plástico
me guia com suas estrelas
até adormecer
O horizonte é o mesmo
remo até o torpor
navego em círculos
viagem lenta
Mas no anoitecer
elas estarão lá
fortes como o sol
para desaparecer em seguida
Convés manchado
marca de varias batalhas
e não posso limpar
não vou esquecer
E me deito entre a fúria
mar revolto
para observar esse brilho rápido
que sempre está lá
sempre me acalma

17 de agosto de 2009

Tempos Dificeis para os Sonhadores

Cair da tarde, céu azul e borrões sutis de um laranja anunciando a noite, com um amontoado de nuvens brancas passeando por entre os prédios altos.
Me sentei em uma cadeirinha de plástico que fica na varanda, puxei meu scratch book improvisado, uns dois lápis, uma borracha e passei a observar as janelinhas dos apartamentos vizinhos.
Algumas abertas, outras fechadas, cortinas de cores variadas, duas pessoas na sacada conversando, um senhor solitário assistindo um jogo de futebol, um guindaste erguendo outro prédio lá longe, nada de novo na realidade.
A rotina nos deve ter pego de uma forma tão incrível que paramos de ver dias como esse, lindos, para os transformar apenas em dias simples, com sol, jogo na televisão, papo na varanda e janelinhas fechadas.
Em um outro apartamento, cortinas fechadas, uma luz suave vinha de dentro projetando a sombra de duas pessoas no pano creme.
Um casal estava dançando.
Eu era apenas o observador, tendo a minha frente a rotina massacrante envolvendo cada linha visível, mas naquela sala havia um casal pondo em pratica um de meus textos, e o mais peculiar ainda... meu ultimo texto...
Era como ver a realização de meu desejo, como estar frente das palavras que me saíram como quem grita um pedido, mas não era eu naquela sala, não sentia o abraço ou escutava a musica que brindava o casal ao fundo.
Uma brisa leve, um apanhador de sonhos ressoa no ar vazio, as árvores ao longe batem palmas com suas folhas e em meu livro iniciei o retrato da tarde mais inóspita que poderia ter.
Inóspita porque era como um ataque direto em meu peito, com tantos detalhes que seria impossível traduzir em linhas de grafite o som do vento, o tilintar do apanhador ou o farfalhar das árvores, e tão impossível ainda seria descrever exatamente aquela paixão que fazia o casal dançar tranquilamente.
A tarde perfeita estava ali, mas não era para mim.
São tempos difíceis para os sonhadores, escutei de um amigo que chegou em casa pouco tempo depois e me pegou ainda na varanda segurando meus lápis.
Não cabe a mim pensar somente em meus desejos, esperar que outro fim de tarde como esse repentinamente se apresentasse para mim com todas as minhas vontades feitas em uma bandeja de prata.
O dia seguia em frente, a brisa ainda persistia, e eu seguiria atento aos detalhes.

9 de agosto de 2009

Ninguém Alguém

Não tem ninguém por ai que me espere pela noite afora.
Ninguém que vá me ligar caso eu me atrase ou não ligue para dizer se estou vivo, ou para saber como foi o dia.
Não tem ninguém que vai tomar um banho horas antes de me encontrar, que vá passar o melhor perfume e os melhores cremes, que vá se maquiar, escolher o vestido mais bonito, que me receba comum sorriso e que vá dizer que bom que cheguei e que está feliz por me ver.
Ninguém que vá sair comigo para um jantar, que escolha uma mesa sossegada em um restaurante maravilhoso, tomar um bom vinho e conversar banalidades, rindo tranquilamente de piadas clichês ou não.
Ninguém para chegar em casa, largar os sapatinhos em um canto qualquer e dançar no meio da sala, uma musica lenta, se deixando abraçar e encostar a cabeça em meu peito enquanto damos passos leves.
Ninguém que vá me beijar de forma tórrida, me envolver em calor, deitar-se comigo e esquecer do amanhã.
Ninguém para acordar tarde, nua, sem mascaras ou mentiras, abrindo os olhos devagar, tirar o cabelo do rosto e me desejar, com a voz doce e macia, um bom dia.
E de tanto não ter ninguém assim, talvez não devesse ter dentro de mim esse alguém que espera pacientemente por quem não vai chegar.

3 de agosto de 2009

You're My Flame

Faz tempo que não coloco uma musicota por aqui, e como estou sem inspiração (ou com toda ela na realidade), melhor ficar só na musica!

"You're My Flame"
Zero 7

You take a stroll into the morning sun
You make a Happy Meal a portion for one

You steal the wallet of a man with a gun
You make this seem like a whole lot of fun
Yeah you do

You'll make new shapes with your hands on a wall
You're driving a nail while you're taking a call
You wouldn't care if you had nothing at all
Instead of chasing the dream
You're just chasing a ball
Yeah you are

You're just dodging all the friendly fire
You're never dressed in the right attire
You miss the start of every game
You're my flame

You make hay when the sun don't shine
You don't need a dollar, you don't need a dime
You burn at both ends yet still you're fine
You're my flame

Teach me to haggle
I'll teach you to swim
Get right back on the saddle
Push me on a swing

Take me to Rio
I'll take you to Berlin
I'll give you some yarn
And you'll give it some spin
Yes you will

Now you're sitting sure, yes, in an old tree
You've tied our legs, and so now we have three
You dip your toes into the ice cold sea
I see your reflection, your reflection is me
Yes I am

You're just dodging all the friendly fire
You're never dressed in the right attire
You miss the start of every game
You're my flame

You make hay when the sun don't shine
You don't need a dollar, you don't need a dime
You burn at both ends yet still you're fine
You're my flame

You're my flame
You're my flame
You're my flame

You're my flame
You're my flame
You're my flame

28 de julho de 2009

Enigma da Esfinge


Mais um dia.
Sai daquele café com a sensação de que nada iria mudar.
A chuva, de fato, aguardava minha presença para que pudesse retornar a sua brilhante melodia, tocada no impacto das pequenas gotas no asfalto e nos telhados.
O jornal tive de dispensar em uma lata de lixo, ensopado, misturando noticias com as letras que derretiam.
Sem guarda chuva, meu chapéu e meu casaco era tudo o que me restava, assim como alguns cigarros amassados em um bolso e umas fichas para alguma urgência, um telefonema rápido talvez.
Mas que desgraça! Para quem ligaria em urgência? Ao Papa? Certamente me indicaria o CVV ou alguma ponte próxima para me jogar.
A noite caia e todos os lugares onde poderia me esconder já estavam fechados, e a vontade de ir para casa já não existia, pois a segurança que me proporcionava era apenas parcial, já que nada poderia me manter longe de meus demonios pessoais, que saltavam a meu lado, batendo palmas enquanto esperavam que me rendesse as suas paranóias.
Sem rumo, me abriguei próximo de uma grande estátua de um parque público, que parecia simplesmente repelir as gotas para longe, cerca de uns dez passos a sua volta.
Sentei calmamente a seus pés, repousei o chapéu sobre o colo, um lenço do bolso interno do casaco e retirei os óculos para limpar a espessa camada de água da lente.

- Decifra-me ou devoro-te

A voz feminina vinha detrás de mim. Calma, suave, tão delicada que podia-se facilmente cair de amores, sem ao menos saber de onde vinha, e por tal motivo, resolvi nem ao menos me mover para olhar, mas apenas responder, tentando me aproximar do mesmo tom calmo e simples.

- Me encontrou finalmente. Mal podia esperar por tal momento.
- Édipo, aquele que me vence e me destrói, ainda que não me toque ou levante espadas e lanças. Aquele que simplesmente me responde e elimina um problema, para criar tantos outros problemas quanto pode aguentar.
- Sei dos males que causei, sei dos problemas que tive de enfrentar, e sei muito mais sobre o que vem adiante já que meu passado, tantas vezes recontado como futuro, desenrola a minha frente a inevitabilidade de fatos que só eu tenho o poder de interromper e mudar.
- Incrível que tais olhos, que certamente serão destruídos, vejam agora a realidade das escolhas.
- Sim, e por tal fato lhe digo nesse momento que não responderei a seu desafio.

Minha cabeça girava e pedia desesperadamente pelo conforto que meu ultimo cigarro, o derradeiro, poderia me oferecer.
Acendi calmamente com o fosforo, inalando toda a fumaça química presente no pequeno palito. A chama cobriu a pequena área presente na ponta, transformando os primeiros pedaços de tabaco em cinzas.
Sabia que a Esfinge esperava atrás de mim para saber o motivo de minha recusa, e que assim permaneceria até obter resposta, indiferente a quanto tempo fosse levar em meu ritual.
Dei uns dois tragos antes de responder, por fim, com os motivos de tal decisão.

- Meu fim tem sido o mesmo desde tempos imemoriaveis. Nada muda desde meu nascimento até o momento em que, cego para todas as coisas, resolvo mergulhar nas águas da eternidade. Nada mais me desafia e nada mais me comove nesse caminho sangrento ao qual estou destinado.
"Então me pergunto, porque tenho de seguir com está história fadada a infelicidade, ferindo tantos inocentes, prejudicando a vida de tantas pessoas que apenas queriam viver!"
"Digo nesse momento, cara Esfinge, que não me importo com o que venha acontecer, desde que me venha algo novo. Que não siga nesta corrente de destruição."
"Quero que me devore, que me mastigue aos poucos. Me deixe sentir tudo aquilo que nunca pude ao escapar de suas garras."
"Quero que seja lento, que me olhe nos olhos enquanto rasga minha carne e despeja ao chão minhas entranhas. E que me tenha com carinho, como a caça que pelo bem da maioria se dispôs a servir de alimento a grande besta."
" Mas veja que me entrego não apenas por estas razões visivelmente humanas, mas sim pela possibilidade de descobrir o que me espera do outro lado, tão distante dessa eternidade em ciclos viciosos."
"Hoje tenho que lhe dizer, que mesmo tendo a resposta pronta para a pergunta que me faria, nego entrega-la para que enfim tenha meu tão merecido descanso, portanto, vá em frente e me devore o quanto antes."

Joguei a bituca ao chão, em um canto onde a chuva pudesse dar conta da pequena brasa que resistia junto ao filtro, e me preparei para ser engolido pelo severo monstro.

- Veja Édipo, que o grande enigma é exatamente o quanto estamos dispostos a viver para responde-lo. Hoje, me provou que a necessidade real é outra, portanto lhe entrego enigma maior, que é tentar descobrir o que está por vir, frente as mudanças causadas por sua escolha. - disse a Esfinge, tendo sua voz misturada ao som da chuva quando terminou suas palavras.
Incrédulo, virei na tentativa de encontrar ali minha julgadora e impor que me devorasse, mas apenas uma estátua negra permanecia ali, quieta, recebendo as gotas como todo o resto a sua volta.
Para mim nada mais restava, a não ser seguir em frente e colher os novos frutos dessa semente recém plantada, e a chuva cuidaria de as fazer germinar.

23 de julho de 2009

Enquanto isso na fazenda...

Acordei e o sol nem estava no céu.
Sair desse horário em São Paulo seria considerado crime, passível de cadeira elétrica ou um dia de trabalho medíocre, mas sai da cama quentinha assim mesmo.
Banho quente para dar uma acordada, passo aquele desodorante resistente até a bomba atômica, pego o chapeu do caseiro emprestado e me preparo para o café.
Mesa posta, ninguém por perto. É como se fantasmas prodígios andassem pela cozinha montando seus pratos e deixando tudo pronto, e depois desaparecessem, com o sentimento de missão cumprida.
Tomo um café delicioso, um pedaço enorme de bolo de fubá melhor que o de minha mãe, pão com manteiga fresquinho e quentinho, possivelmente tirado do forno minutos antes de chegar eu adentrar pela cozinha.
Dali a meia hora parte o velho trator Massey Ferguson todo enferrujado, levando atrás uma caçamba cheia de gente a caminho da lavoura para colher o tão precioso fruto, que põe comida na mesa todo mês, mas hoje não quero ir com eles.
A sensação que me dá ao subir o morro naquele trator é a de que a qualquer momento ele pode virar e jogar todo o povo montanha abaixo.
Lembro do comentário do caseiro no dia anterior, que para visitar a fazenda eu poderia ir de carro ou tentar um dos cavalos.
Me indicou o Jerônimo, de nome inspirado por um dos personagens da novela Irmãos Coragem, da Janete Clair.
E lá fui eu, cinco e pouco da matina, mais Jerônimo, uma bolsa com itens obrigatórios como água, comida e uma caderneta. Morro acima, para depois cair em uma clareira que dava acesso a plantação de café.
Nesse momento senti como a vida na cidade me privava de milhares de coisas que só senti ali, naquele campo lindo cheio de árvores, com frutinhos vermelhos e amarelos esperando por serem colhidos.
E compreendi também que o Jerônimo tinha um sério problema de pender para a esquerda, tropeçando nas próprias patas vez por outra, quase me levando ao chão.
Em certo momento parei próximo a um riacho, água cristalina, amarrei o Jerônimo em uma árvore onde podia petiscar um pouco de capim, me joguei ali próximo e tirei a soneca mais gostosa da minha vida.
Acordei duas horas depois, o cavalo me olhando com cara de quem estava de saco cheio de ficar ali dando sopa. Escrevi algumas coisas sem sentido sobre natureza e liberdade, me levantei e fui correr pelo resto da fazenda.
E pensar que foi só chegar de volta ao casarão e um monte de papéis cheios de burocracia já me esperavam sobre a mesa de mogno da sala.
Grande coisa, já que antes do entardecer iria dar minha volta novamente.

22 de julho de 2009

Gatos Pardos


Quando cai a noite, nem todos os gatos são pardos como se imagina.
Presentes na maior parte dos lugares, presenciando quase todos os momentos importantes da história humana, eles sempre estarão lá para observar e refletir.
Sempre pensamos que eles seriam sempre os mesmos, não importa o que viesse a acontecer, mas não é bem assim que as coisas funcionam em tempos de instabilidade geral.
Digo que é bom estar perto, conhecer a história e seus pormenores, todos os detalhes sórdidos e ter acesso aos pedaços que a muitos faz falta.
Mas presenciar, estar perto demais, em uma aproximação instigante, força a não mais querer se afastar.
E quando, repentinamente, a tinta se desfaz ao chão, é impossível não enfiar os pés no meio de uma fusão de cores enigmáticas, que não se distinguem entre belas ou terríveis.
Que se salve aquele que tiver onde subir, onde se agarrar. E não importa quem está se afogando, pois gato bom é gato arredio, em cima do muro, bem longe do perigo.
E lá estou eu, empoleirado sobre os tijolos, observando mundos ruírem a meus pés.
Minha vontade é de pular, cair em meio a devastação para salvar o que sobrou de inocência e beleza, ainda que mergulhar na tinta fresca é deixar de ser pardo para ser parte da história que até então eu apenas apreciava observar de tempos em tempos.
Alguém então grita, que "deus salve a rainha", mas são apenas mais observadores que não querem se envolver. Nada além da ração no pote colorido no dia seguinte.
E me lanço sem dar ouvidos, sem pensar nas consequencias, mesmo que certo de que, ao bater com o corpo macio no lodo que se forma, gotas vão subir e atingir os mais próximos.
Talvez isso lhes sirva de lição para deixarem de ser pardos e agirem um pouco mais.
Estou longe de chegar a meu destino, mas salvo quantos puder no caminho.

9 de julho de 2009

Um Adeus

Deixo amigos
que não se contam nos dedos
pois valem as mãos
e os pés
Deixo honrarias
e glórias a dispor
conquistas únicas
meu sangue ao chão
Deixo juras
vontade de voltar
ao sonho
ao desafio
Deixo desejos
e visões surreais
uma musica para lembrar
um brinde em um bar
Deixo amores
vontade de ficar
ainda que tarde
para repensar
Deixo o olhar
preso no horizonte
um passado para recordar
um beijo de despedida
Deixo palavras
um verbo rasgado
tantos nomes
e muito a contar
Deixo feridos
abandono meu lar
em troca de contrato
firmado e tratado
Deixo recibos
e contas a pagar
nem sei se volto
nem dá para esperar
Deixo um sorriso
um brilho de sol
o vislumbre
um futuro melhor

5 de julho de 2009

A Viagem, a Porta e a Baleia


Terminal rodoviário do Tiete, lá pelas tantas da manhã, Casa do Pão de Queijo lotada de pessoas carregando malas e mais malas, cada qual para um canto diferente do meu Brasil.
Compro minha passagem em uma cabine, igual a tantas outras cabines, com uma atendente de cabelo preso e lápis forte nos olhos para disfarçar as olheiras, igual a tantas outras atendentes espalhadas nas cabines.
Tento a sorte em um espresso mal tirado, com cara de quem vai triturar meu estômago, mastigo uns dois pães de queijo com sabor de polvilho acentuado, uma garrafa de água para os momentos de seca durante o caminho e bora procurar o portão de onde vai sair meu ônibus.
Uma mochila cheia de roupas, um livro, alguns trocados para as paradas em cidades sórdidas onde o cartão de débito não chegou, meu celular para entrar em contato com o mundo e um amontoado de musicas no mp3 para distrair.
Me sentei em um banquinho desconfortável, bem em frente ao portão, uma musiquinha ia embalando uma vontade crescente de tirar uma soneca, quando uma mãe e sua filha resolvem sentar ao meu lado.
Podia ver uma infinidade de ônibus chegando e saindo a todo momento, pessoas se abraçando, pessoas sem ter quem abraçar, outras que sequer pareciam precisar de um abraço de boa viagem, mas tudo bem. São apenas pessoas no fim das contas.
Peguei meu livro e tentei ler algumas paginas, e, de pronto, a pequena garota no colo da mãe já se interessou pelos desenhos espalhados em algumas paginas.
Olhava do livro para mim, de mim para o livro, do livro para a mãe, e um sorriso gigantesco a cada pagina que eu virava para revelar mais um desenho em preto e branco.
- Olha mãe, um gato!
e depois
- Olha mãe, um cachorro!
e depois
- Olha mãe ele tem uma baleia!
Baleia?
Perai, onde diabos ela viu uma baleia?
Olhei desconfiado para a garotinha, fiquei intrigado, rodei o livro, olhei a capa e contracapa, olhei as bordas, olhei pagina por pagina, e nada de baleia.
- Olha mãe, no dedo dele, tem uma baleia!
Foi então que descobri.
Semana passada foi o que posso chamar de principio do caos.
Lembro bem do dia em que tudo começou.
Sai de um treinamento que já vinha consumindo toda minha manhã, e por trabalhar no turno da noite, estava exausto, só conseguia pensar em correr até em casa e tirar uma boa soneca, para enfim acordar duas horas depois e ir trabalhar tranquilamente.
Teria sido brilhante, se meu despertador tivesse trabalhado da forma como se espera que ele trabalhe, mas acredito que assim como eu, acabou por resolver tirar uma soneca também, ou puramente esquecer que tinha de funcionar.
Dormi mais que duas horas, acordei atrasado, me rasguei no banheiro ao fazer a barba, esqueci metade do uniforme em casa, assim como o celular que ficou sob uma pilha de roupas na cama.
Sai batendo a porta ainda com o cabelo molhado, nem pensei em esperar pelo elevador. moro no segundo andar, tenha piedade!
Fui pela escada de incêndio mesmo, cruzando porta e contra fogo em duas passadas, mas tinha esquecido tanta coisa para trás que acabei por esquecer os dedos também.
A porta de incêndio fechou com raiva, deixando bem claro o porque de sua função. Pegou três dedos em uma porrada só, bem em cima da unha.
Dor, espasmos percorrendo meu pulso, os dentes rangendo para segurar um palavrão.
Abanei a mão para ver se parava, mas dor boa é aquela que persiste, e essa era das melhores!
Olhei os dedos para contabilizar o estrago, e para minha surpresa, apenas um dedo foi afetado de forma critica.
Tinha sangue, preto, obscurecido, formando uma pequena poça entre a carne e a unha.
Mas não tinha tempo para contemplar a obra da natureza em meus dedos. Sai correndo gemendo baixinho.
Ai, passado uma semana, sentado ali naquele banco de plástico do terminal, fui parar mais uma vez para ver a obra divina, que apenas a criança percebeu.
O sangue por debaixo da unha tinha secado, provavelmente um pouco dele deve ter saído ou era apenas roxo do impacto, mas o formato presente foi o que despertou o interesse geral.
O pequeno desenho feito a sangue, de ponta cabeça, realmente parecia uma pequena baleia, daquelas que se vê em desenhos animados. A cabeça enorme e redonda, um rabo curto, sendo que na ponta, forma-se uma pequenina bolinha.
Agora eu era o rapaz do terminal, com um livro cheio de desenhos, e uma baleia no dedo.
As vezes tenho vontade de voltar a ser criança...

30 de junho de 2009

A Raposa


Dos campos de trigo me chegam lembranças
de teus passos cruzando o caminho
pequenos pés saltando distancias
seguindo assim sozinho
Me chega de repente
pergunta quem sou
não me vê como gente
mas não sente temor
Sou a raposa
do desejar e sentir-se desejado
sou a força
para não esquecer de seus laços
Sou bicho e sou homem
ou seria eu o contrario?
somos iguais no ponto de vista
mais visitas e saberá do que falo
Procura por homens
que empunham facas e machados
me caçam, me querem morto
e esquecem de seus próprios passados
Minha verdade é assim inconcebível
é o bem e o mal enlatados
não considera a realidade como todo
já que o que vence é sempre o fato
O bom para mim pode não ser para você
e o que outros fizerem pode não ser justificado
mas o momento não impõe facilidade
um dia poderei ser sacrificado
Por isso não venha cedo
não chegue sempre no horário
a rotina mata toda a surpresa
aos olhos de quem é observado
Sente aqui comigo
me deixe ver seus sonhos guardados
esperemos o por do sol
em mais um dia memorável
E seremos dois em cem mil
não mais iguais a todos os outros
raposas sobre a macieira
cuidando de nossos frutos amados

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"
- Fala da Raposa, do livro O Pequeno Príncipe, escrito por Antoine de Saint-Exupéry-

19 de junho de 2009

Devaneios da Arte e Desejos Contidos


A uns meses atrás tomei uma brilhante decisão em minha vida, que até então seguia medíocre, de balada em balada, garrafas de cerveja, whiskys baratos, mesas de sinuca tombadas e um punhado de musicas e textos.
Fiz minha inscrição no vestibular para Artes Visuais, prestei a prova, passei com mérito e dia oito de Agosto recomeço minha vida de estudante.
Nesse meio tempo, decidi mergulhar fundo e consumir todo e qualquer tipo de informação referente ao meio em que pretendo me infiltrar, e, como não poderia deixar de ser, optei por começar naquele que tenho mais gosto. O cinema!
Tenho assistido de tudo um pouco, desde blockbusters hollywoodianos até westerns filmados na base de filmadoras digitais, provavelmente compradas em lojas de penhores.
Me deparei com coisas boas e coisas ruins (muito ruins), mas até mesmo os piores filmes conseguiram me mostrar alguma coisa de bom.
Após um pequeno problema intestinal que me segurou em casa mais que o normal, culminando em uma falta não programada no trabalho, recorri as três opções que me eram devidas:

1 - Parar de comer tranqueiras;
2 - Dois dedos de água, duas colheres de sopa de maizena e meio limão espremido (valeu vovó Olga!);
3 - Me entreter com algum filme nos momentos em que permaneci fora do banheiro.

Um pouco exausto de aventuras e dramalhões, optei por assistir um documentário, que, a principio, me pareceu terrível pela proposta, mas que em determinado momento me atingiu com uma ideia sutil e me entregou de bandeja algumas boas verdades sobre a vida.
Trata-se de "I'm a Sex Addict", escrito, dirigido e apresentado por Caveh Zahedi.
O documentário é sobre a vida do próprio diretor, onde ele conta que, em determinado momento, com problemas no casamento envolvendo brigas e puro desinteresse, acaba por procurar sexo com prostitutas, e o que era apenas para se tornar um simples "desabafo", vira uma busca incansável, de mulher em mulher, por prazer e por um relacionamento aberto.
O camarada é meio insano, tem varias mulheres ao longo de alguns anos, explica para elas essa necessidade sexual intensa, mas claramente não é aceito por elas da forma como ele espera que seja, o que o faz procurar por ajuda profissional.
O interessante no filme é um momento em especifico em que, ao levar uma relação mais aberta com uma de suas parceiras, se vê frente a um pequeno detalhe.
Sua parceira tem um problema grave com bebidas, está quase sempre bebada, destroi um quarto de hotel, eles se separam e decidem por fim ao que ele acreditava ser o relacionamento perfeito.
O caso é que ele percebe que todos tem alguma fraqueza, algum ponto onde tentamos sempre nos curar, mas que dia após dias caímos de joelhos e nos entregamos facilmente.
O dele era sexo, o dela era bebidas... e o nosso, qual é?
Sou um romântico incurável, minhas recaídas são por momentos de nostalgia em que me lembro de poucos bons momentos que vivi ao lado de pessoas que não me deram tanto valor.
Cai no erro inúmeras vezes de tentar reconciliar, viver novamente aquele sonho despedaçado, insistir em tentar novamente, e acabar como antes, enfiado em algum canto chorando sozinho.
Agora não sei se sou viciado em momentos de tristeza, ou simplesmente gosto dessa dor de não ter o carinho que quero.
Não importa, tenho essa carência afetiva meio maluca, isso me acompanha a algum tempo e nem sei se tem cura por intermédio de terapia ou coisa parecida que não seja uma boa companhia.
Desse pequeno vicio, me recomponho aos poucos, mas sabendo que cair de joelhos é como o cair da noite. Não vai tardar a vir novamente.
Enquanto isso reflito sobre o inicio das aulas e de uma frase dita por uma moça muito doce.
"A grande verdade é que todo artista cumpre melhor seu papel de criador nos momentos mais trágicos. Você é assim com seu papel e caneta, e logo poderá ser com um pincel e tinta."
Não me imagino morrendo como Van Gogh, vitima de suas próprias alucinações e neuras, com um tiro no peito e dois dias para sangrar sozinho em um quarto, mas por hoje, uso de suas palavras, que na realidade foram apenas extraídas de um livro que ele gostava muito por sinal:

"Meu melhor quadro é aquele que imaginei deitado na cama, através da fumaça do cachimbo e que nunca cheguei a pintar"
-Joris-Karl Huysmans-

ou ainda:

"La tristesse durera toujours"
-Vincent van Gogh-

13 de junho de 2009

Dia dos Abandonados

Não recebi cartões
não recebi flores
não recebi beijos apaixonados
não percebi se algo mudou
O sol veio e se foi
a lua me convidou duas vezes
e nela mergulhei
buscando seu lado escuro
Não dei telefonemas românticos
não ofereci abraços
não acordei do lado
não percebi se alguém se lembrou
O dia passou
dores antigas me visitaram
e nada pude fazer
apenas aceitar
Não respirei fundo
não olhei fundo nos olhos
não sonhei em ser feliz
não pensei na eternidade
Trabalho para ver se o tempo passa
o tempo que me abandona
que quando volto sozinho
me traz a companhia da solidão
Não encontrei meu amor
não lhe disse o quanto desejo
não senti saudade
porque não tinha nada para se sentir

9 de junho de 2009

Ondas

São quatro horas da tarde e as ondas se acabam na areia da praia.
O céu está cinza em um reflexo da vontade divina de enviar uma garoa fina para lavar a alma dos poucos que caminham desapressados pela orla.
Me sento na mureta de contenção para observar o movimento constante do mar, buscando nele a mesma paz que leva e traz a água de tão longe.
Lá longe, sentada na areia macia, vejo meu bem.
Os cabelos soltos, posto em volta do pescoço como um casaco levemente avermelhado.
Blusa justa ao corpo dando forma a suas linhas delicadas e bem feitas.
Saia longa de tecido claro, cobrindo até seus tornozelos.
Pés descalços, dedos que brincam com a areia branca.
Mãos jogadas para trás, agarrando a areia em sustentação ao corpo levemente posto para trás.
Os olhos presos no horizonte como quem espera a chegada daquilo que sempre sonhou, e um sorriso pequeno, quase imperceptível., mas que se denuncia por um leve movimento em seus lábios.
Ao longe escuto Jorge Bem cantando as palavras que sonho em dizer:
"Por causa de você bate em meu peito, baixinho, quase calado, um coração apaixonado por você menina, que não sabe quem eu sou. Menina, que não conhece meu amor."
Talvez não precise dizer nada.
Talvez o silêncio de minha voz e o trovejar das ondas já sejam suficientes para indicar o que Jorge Bem canta ao longe.
Esfrego o rosto para tirar um pouco da areia carregada pela brisa, e isso é o suficiente para entender minha miragem.
É tarde, não existe rastro de minha beldade na areia, e o que me resta são um céu cinza e as ondas levando meus sonhos para distante de onde posso ver.

8 de junho de 2009

Edredon Vermelho


Fecho os olhos quando o sol chega
sonhos dispersos num edredon vermelho
repasso detalhes de uma conversa
dispenso o frio insistente
Vejo imagens desconhecidas
fotos de uma boneca de cera
invado seus pensamentos selvagens
ordenados com tamanha delicadeza
Forjo os planos de fuga
para um casal na auto estrada
uma praia, um lugar qualquer
onde acordar seja desnecessário
Sinto as algemas que me prendem
me inibem de sair em disparada
desse lugar onde a solidão me perturba
para debaixo de teu calor e aconchego
E quando em um quadro ver tuas obras
poderei sentir a profundidade de teus olhos
o toque delicado das mãos a boca
o cabelo que lhe esconde a face
Nos geranios vou buscar teu perfume
encontrar uma pista do seu real
imaginar o que mais tens a dizer
estar aberto ao que possa me perguntar
Me deito quando o dia se estreita
sonhos repletos de curiosidade e segredos
repasso visões em uma janela
dispenso a solidão frequente

22 de maio de 2009

Luz acesa


Deixei a luz da sala acesa
para quando você chegar
e que venha num sussurro
no limiar
Espero que venha logo
no inicio do dia
na primeira hora
que surja para a vida
Não espero que me entenda
ou que me veja com outros olhos
talvez me proteja
que me tenha em seu colo
Não tem comida pronta
nem um gato para se enroscar
tenho meus olhos
talvez possa sonhar
Deixei a porta aberta
para quando você chegar
e paginas em branco
um desejo de amar
Me faz tanta falta
e isso espero que saiba
pois nessas noites frias
não me sobra mais nada
E que venha de galochas
guarda chuva aberto
pois aquela nuvem cinza
sempre está por perto
Não tenho muitos desejos
nem mesmo muitos segredos
nada que não possa descobrir
ou que não possa me aconselhar
Deixei meus olhos abertos
para quando você chegar
e uma musica soando baixo
para que eu possa acreditar

16 de maio de 2009

A Forra

Já chegou a noite
e é hora de pintar meu rosto
vestir minha melhor roupa
e ir a guerra
para pegar o que é meu
Serei seu pior pesadelo
o fantasma em sua sombra
você vai onde estou
e te persigo nos pensamentos
Ei garota
não pense que é por maldade
ou uma espécie de vingança
quero apenas ir a forra
ignorar os que estiverem em meu caminho
recuperar minha felicidade
Meu sorriso negro
de lábios mortos por teu antigo veneno
vou despir-me do fino véu da morte
dissipar a doce e lenta agonia
Não espere que o tempo passe
será rápido para mim, lento para você
e na melhor das hipóteses
alguém enxugue tuas falsas lágrimas
Ei garota
tente resistir ao pessimismo
as coisas não poderiam estar pior
pois não se trata de vingança
mas apenas alguém que quer ir a forra

Interessante é encontrar essa poesia em uma agenda antiga que tenho. Lembrar dos motivos que me levaram a escrever tais palavras...
Passaram cinco anos desde que se fez necessário tanta raiva, e agora tudo volta de uma forma inesperada.
Já dizia Cazuza "Eu vejo o futuro repetir o passado/ Eu vejo um museu de grandes novidades/ O tempo não para"

15 de maio de 2009

Ao Dormir


Deito em minha cama, fim de madrugada.

Fecho meus olhos por um instante.

Na escuridão detrás das minhas pálpebras milhares de imagens se formam, contorcidas, desfiguradas.

São pessoas, lugares, palavras soltas, rostos sorrindo, gritando, a repetição de momentos novos e antigos, e em poucos segundos tudo desaparece.

A escuridão volta, mas não como aquele breu clássico por falta de luz, mas uma escuridão pálida, tons de cinza, como se na realidade fosse uma sala de paredes altas e fundo infinito por onde eu teria de utilizar de varias outras vidas para percorrer e conhecer, e uma estranha sensação que, num canto qualquer, alguém se põe de pé, me observando atentamente, braços cruzados, apenas aguardando o momento certo para movimentar-se em minha direção.

Não sei porque está ali, ou porque me observa, mas esteve sempre ali. E ainda que hoje eu já tenha me acostumado com sua imagem aparecendo como um fantasma que desaparece ao ser percebido, permaneço atento a qualquer movimento seu, por mínimo que seja.

Me atacando ou me protegendo, é bom manter a sensação que o tenho sob controle enquanto o tenho em meu ângulo de visão. Se é que posso chamar isso de ver alguma coisa concreta.

Logo mais as sensações mudam, uma explosão de cores fortes, como se eu estivesse dentro de um acontecimento terrível, de observador.

Tudo se move com velocidade sem igual, não tenho tempo para me apegar a detalhes ou tentar descobrir o que se passa, mas apenas me concentrar para que não perca meus sentidos.

Mas é tarde porque sempre perco.

Me vejo em sonhos estranhos, onde pesadelos não me fazem ter medo, assim como sustos ou a morte.

Se levo um tiro, se me cortam, se me ferem de alguma forma, sinto meu corpo cair suavemente, como uma pluma encontra o chão, e me levanto em seguida como se nada tivesse acontecido.

Na grande maioria dos sonhos, perco a paciência, imagino que possa ter coisa melhor a fazer e começo a voar. Simplesmente vou para o alto, e para nenhum lugar em especifico. Apenas começo a voar, e essa é uma das melhores sensações que tenho quando sonho.

As vezes também encontro outra pessoa, sinto amor por ela, de uma forma tão pura, tão linda, tão repleta que desejo fortemente que tudo seja real, que não se acabe ao amanhecer, e tento o máximo possível segurar aquele momento, congelar toda a cena, ainda que meus esforços sejam em vão.

Não acredito que um dia eu seja capaz de sentir essas sensações maravilhosas enquanto acordado, mas meus sonhos lúcidos servem exatamente para me oferecer, em doses homeopáticas, essa lembrança de algo bom.

Meu celular vibra no chão de madeira quando chega a hora de despertar, fazendo um ruído que provavelmente iria acordar o morador do andar de baixo caso ele tivesse o mesmo relógio biológico insano que o meu.

Levanto calmamente, anoto os sonhos que tive em um bloco cinza, e vou tentando traduzir tudo o que vi ao dormir. Não que eu vá chegar em algum lugar, mas tem alimentado bem minha imaginação com coisas que poderiam bem ser verdade.

14 de maio de 2009

Mais uma noite


Uma e meia da madrugada e volto para a casa.
Desci do ônibus, dei boa noite para uma amiga que me acompanha até aquele ponto do caminho, puxo os fones de ouvido para fora do bolso e inicio a segunda parte da minha jornada de retorno.
Uma musica antiga cheia de lembranças salta para dentro de minha cabeça, inundando meus pensamentos de nostalgia e reabrindo velhas feridas que pensei ter largado no esquecimento.
Mas não me entrego, balanço a cabeça para tentar escapar da armadilha, aperto o passo e foco minha atenção para o caminho a frente.
Um gato, amigo de poucos dias, pula o portão de sua casa poucos segundos antes de eu chegar, e logo vem me afagar a perna e me cumprimentar com seus miados.
Olá bom amigo! Linda noite não acha?
Para mim é só mais uma noite de nostalgia.
Acaricio sua cabeça, dou um sorriso, meus cumprimentos, boa noite, sigo em frente.
Vejo um grupo de rapazes em um bar. Todos bebados, gritando, soltando piadas e comentários que só eles, no cumulo da embriagues, seriam capazes de compreender.
Penso por um instante em me unir aos celebradores noturnos, mas porque levar minha tristeza a um grupo tão alegre?
Como uma piada, daquelas que apenas quem conta vê alguma graça, a musica recomeça. Devo ter colocado para repetir e não percebi.
Novamente as lembranças retornam, dançando freneticamente em meus devaneios lúcidos.
Mas não vou me entregar, nem derramar um punhado de lágrimas que não terão sentido nem valor para ninguém. Torno a me concentrar no caminho e sigo para casa.
Só mais uma noite... só mais uma...

10 de maio de 2009

Notas

1- Lembrar de, na próxima vez que encontrar a moça que deveria deixar os cabelos soltos, pedir o telefone, e-mail, endereço e toda e qualquer forma para entrar em contato com ela;
2- Tomar o maldito remédio corretamente ou essa tosse maldita não vai parar;
3- Se possível, mandar certas pessoas para o inferno com direito a passagem de ida na primeira classe. Para ficar mais interessante, sabe...;
4- Preparar textos interessantes ao invez de escrever qualquer coisa e achar que é valido de post;
5- Nem tudo o que eu acho pertinente é de fato pertinente;
6- Baladas são baladas e devem ser tratadas como tal, e não como campo de caça;
7- Se beber cerveja, beba só cerveja. Se tomar qualquer outra coisa, sinto muito;
8- Não esquecer as notas

É, acho que por enquanto é o suficiente...

9 de maio de 2009

Carta aos Amigos

Queridos amigos:

Fico feliz que estejam bem ai, sentados nas arquibancadas dando seus urros de emoção enquanto aqui em baixo, nas trincheiras, enfrento saraivadas a todo instante.
O campo no qual caminho é largo, talvez maior do que minhas pernas possam percorrer, com trechos fáceis de ultrapassar e outros forrados de campo minado e outras formas utilizadas para massacrar qualquer louco o suficiente que se aventure.
Eu? Bem, tenho meu toque insano, e é o que tem me mantido vivo.
Os dias são quentes como o inferno e as noites gélidas demais, mas tenho conseguido superar bem esses problemas, pois não a nada que depois de algum tempo não se possa acostumar.
Não carrego armas, não tenho granadas presas na cintura, não uso colete e não passa por minha cabeça investir contra meu oponente, ou sequer me defender de seus ataques constantes, até porque nessa guerra sem escrúpulos, todos os disparos são feitos para o alto por uma razão de distancia entre atirador e alvo que nunca será percorrida.
Precisão é um sonho para aquele que aperta o gatilho tão pretenciosamente.
As vezes interrompo minha caminhada para observar vocês ai, sentados tranquilamente, mastigando um sanduiche, bebendo um refrigerante, conversando entre si sobre o episódio de ontem da novela das seis.
Não os culpo, e de qualquer forma nem poderiam me ajudar, da mesma forma que eu não poderei quando a situação inverter e eu me tornar um desses espectadores.
Cada um trava suas próprias batalhas com as forças que tem, e cada um sabe bem as dificuldades, as dores e as injustiças as quais somos passivamente domesticados durante tanto tempo para aprender no fim das contas que alguma lição poderemos tirar disso tudo, ainda que seja algo inútil.
Quanto a meu inimigo, ele é um só, disso eu bem sei. O problema real é definir quem é, tendo em vista que em determinados momentos pode ter minha aparência, e as vezes ser exatamente quem eu menos espere que seja, como agora, por exemplo.
Mas dentre tantos problemas, esse é o menor deles.
Fico contente por vocês estarem ai, todos muito bem, apreciando essa perda de tempo que ocorre aqui nas trincheiras.
Assim que possível mandarei novas noticias e não se preocupem comigo. Vou ficar bem!

8 de maio de 2009

Velho

Estou velho.

Tenho oitenta anos agora e a certeza de que vivi muito mais do que todos esses anos seriam capaz de suportar, e hoje, olho pela janela desse apartamento minúsculo e sinto raiva.

Não existe horizonte daqui, prédios se ergueram como eu me levantava a cada manhã de domingo passado, um de cada vez, barrando qualquer visão além de 50 metros adiante.

Vejo o sistema de limpeza do apartamento ao lado entrar em ação com um tubo de sucção pendendo do teto em busca de pó atrás dos móveis metálicos, como uma imensa cobra se esgueirando pelo teto com seus olhos vermelhos avidos por mais trabalho.

Na rua vejo os garotos, malditos cyberpunks enfiando chips de conhecimento em suas cabeças calvas perfuradas por entradas USB. Fumam e se drogam esperando que a conexão com o que eles chamam de realidade torne-se mais veloz, mais real que os hologramas oferecendo novos equipamentos eletronicos na vitrine blindada da loja de micro-computadores portáteis.

O que posso dizer é que não me rendi a todo esse lixo.

Não tenho nenhum cabo preso a meu corpo e nem orgãos sintéticos dentro do peito.

Estou quase cego e nem por isso vou gastar meus últimos centavos em um maldito implante de lentes de alta resolução que vão substituir meus olhos por um vidro espelhado que me deixaria com cara de abelha. Prefiro seguir com meus óculos de aro plástico, tão convencionais, ultrapassados.

Quantas guerras já passaram para mostrar ao mundo que a paz não voltaria, quantas doenças teoricamente incuráveis apareceram do nada para serem tratadas e curadas, quantos presidentes vieram para dizer que a realidade não seria destruída por essa ideia masoquista de utopia cybernética, e quantos presidentes foram assassinados, depostos, quantos desistiram, quantos enlouqueceram e quantos concordaram em aceitar que o mundo agora era um pacote de merda sem solução, impregnado por uma raça de seres que pouco se importavam com a vida, mas sim com a própria sobrevivência enquanto lhes era possível sobreviver.

Estou velho para tudo isso, para essas discussões sem fundamento algum onde homens colocam seus rostos frente a camera, em uma reunião de imagens holográficas numa sala qualquer destes tantos prédios vazios.

Me admira que com tanta tecnologia não tenhamos encontrado uma forma de destruir a barreira de lixo que criamos em volta do planeta e que barra qualquer ideia maluca de procurar um outro planeta para “colonizar” e destruir.

Me admira ainda que não tenhamos destruído a nós mesmos durante todo esse tempo, depois de tudo o que fizemos e testamos enquanto achávamos que seria uma forma de se viver mais confortavelmente.

Estou velho, vivi muito até aqui, e tenho plena certeza de que vivi mais do que qualquer um desses filhotes bastardos da tecnologia andando pelos becos escuros entre os prédios que bloqueiam meu horizonte.

7 de maio de 2009

Boa Sorte

Boa sorte
aos que trilham esse caminho
sem notar as pedras
os ventos
Boa sorte
aos caros amigos
que de insistentes
seguem a luta
Boa sorte
aos desaparecidos
que passaram adiante
e foram esquecidos
Boa sorte
aos sonhos antigos
aos desejos divididos
a vontade de amar
E aos que caminham no inferno
que se esvaem em lucidez
resta a verdade
por detrás das sombras
E aos que cegos
vivem no torpor da embriagues
não lhes reste esse fim mórbido
oferecido a todos os poetas
E aos intrépidos
que não entendem o que é sofrer
levem a boa sorte
e possam viver

6 de maio de 2009

Cabelos

Algumas horas passaram e penso em seus cabelos.
Estranho ter a imagem de uma pessoa em mente e lembrar do fato que mais chama a atenção.
Eu era só um estranho, encostado ali no balcão do bar no principio da noite, depois fui forçado a prosseguir em busca de mais um vislumbre do seu sorriso.
Saia do salão atordoado, seguia milhares de perfumes tentando identificar qual era aquele que teve a honra de ser escolhido para representar seus desejos, seus gostos, seus cabelos.
Do lado de fora consegui olhar em seus olhos, brilhantes, como duas armas carregadas me perfurando por ter cometido o insulto de apenas mergulhar sem pudor algum naquele mar incrivelmente belo.
Segui meu caminho novamente para dentro do salão, meio calado.
Meus amigos perguntavam o que tinha acontecido, porque minha aparência estranha, porque tanto torpor se a única coisa que havia feito foi olhar em seus olhos, ainda que por alguns instantes sem tanta importância.
Digo aos que querem ler minhas palavras que homens no geral não percebem as pequenas nuances que dividem uma mulher de uma menina, e como é bom saber que essa pequena linha as vezes, de tão tenue, torna-se tão importante.
É pelo charme, pela forma como dança e passeia os pés pelo piso, como sorri para poucos e perturba com seu olhar lancinante, como leva seu cabelo de um lado a outro e comete o maior dos pecados que é prende-lo.
Poucos homens observam e admiram o charme de uma mulher como essa.
Tolos.
Dei mais alguns passos, esquentei mais o wisky em minha mão, pensei em escrever algo de sobressalto, mas o que tinha de fazer na realidade era apenas informar o quão injusto foi sua atitude de prender o cabelo.
Não que não tenha ficado bonito, pois esse é outro toque feminino que geralmente passa despercebido, mas soltos... bem... a magica era mais forte.
Tomei coragem, andei os poucos passos de distancia como quem caminha com sapatos de chumbo, respirei fundo e mergulhei novamente em seu olhar quando interrompi drasticamente a conversa entre amigas.
Agora, horas depois desse encontro, escrevo esse pequeno texto para explicar o que provavelmente não ficaria tão esclarecido em um poema, ainda que o que eu tenha prometido seja exatamente o contrario, mas, como naquele momento em que disse que ficava mais bonita de cabelos soltos, agora o momento pede que eu diga novamente.
Você fica mais bonita de cabelos soltos.

5 de maio de 2009

Tudo Limpo


Voltei a acordar tarde, me preparando para o retorno ao trabalho e as madrugadas em claro.
Como de costume fui até a padaria mais próxima para tomar meu café da... tarde.
Camarada detrás do balcão, boné, roupão vermelho com o logo da casa, óculos de cordinha, barba por fazer, me prepara ai um misto quente e um suco de laranja.
Sem gelo, sem açúcar.
Sento em um banco alto, colado ao balcão, de onde posso observar o movimento, o sorriso da menina no caixa, o bigode sujo de pão do cliente do outro lado, um pedaço de torta fazendo aniversario na vitrine, uma senhora de seus noventa e tantos anos pedindo os pães.
Quatro pães bem branquinhos, por favor.
Chega um cara todo agitado, camiseta pólo toda colorida e bem passada, bermuda branca impecável, relógio prateado no pulso, cabelos grisalhos. Feição de quem deixou o manicómio, olhos esbugalhados, sorriso meio de lado, soltando algumas palavras que só ele entende.
Ainda de pé, o camarada pede um pão na chapa, uma média com leite e um suco de morango.
Com leite, sem açúcar.
Arranca do porta guardanapo uma dúzia de papéis e esfrega o banco com raiva, de um lado para outro. Para ele poderia ser uma tentativa de limpar e desinfetar o assento, mas para mim e para o resto da padaria era como se o senhor desesperado a nossa frente quisesse arrancar cada traço de tinta marrom usada na pintura do banco de plástico.
Minutos depois, satisfeito, senta e começa um ritual estranho.
Esfrega as mãos uma na outra, esfrega na bermuda, esfrega na camiseta, bate palmas, destroi mais um punhado de guardanapos, embrulha e espreme os dedos como que estivesse todo empapado em óleo ou algum tipo de sujeira grudenta.
Esticou as mãos como que na manicure, olha as unhas uma por uma bem de perto, raspa a do dedão com mais um pedacinho de guardanapo.
Chega primeiro o suco do cidadão, e não contente com a placa em cima de sua cabeça que dizia que "todos os copos e talheres são lavados e esterilizados na maquina de lavar", saca mais um punhado de guardanapos do já exausto objeto metálico e esfrega as bordas do copo com movimentos giratórios.
Satisfeito, pega um canudo do balcão, daqueles que já vem empacotados, rasga o pacotinho, tira o canudo colorido e o leva até os olhos de forma a utilizar o mesmo como uma luneta, averiguando se não existe nada colado por dentro.
Mergulha o objeto no suco e dá sua primeira golada. Um sorriso animado, mais dois goles, mão na cintura, super herói de histórias em quadrinho e torce o corpo para olhar para mim.
- Sabe rapaz, nesses dias de doenças, gripe suína, DST e um monte de coisas, é preciso tomar cuidado, não é mesmo?
Olho para ele durante uns dez segundos sem dizer palavra alguma, levo a mão a boca e solto uma daquelas tosses bravas, catarrentas, com direito a ronco de garganta e tudo o mais.
É o suficiente para ver o homem empalidecer e iniciar todo o seu processo de limpeza novamente.
Me levanto, agradeço o balconista, pago a comanda para a menina sorridente no caixa e abandono o maluco com suas paranóias.

4 de maio de 2009

Fim de Férias

Tenho ai mais alguns dias de férias.
Tenho ai unicamente mais três dias para curtir o que sobrou de tanto tempo jogado fora, e da mesma forma bem aproveitado.
Passei por momentos terríveis, de estresse e raiva, de impaciência e torpor, com a leve vontade de sair destruindo toda e qualquer barreira que se apresentasse em meu caminho, e de certa forma, foi exatamente o que eu fiz com relação a coisas que apenas exigiam força bruta.
Me mudei, travei batalhas já citadas em textos anteriores, travei inúmeras outras batalhas que pela ideia de auto-proteção não convém nem ao menos citar.
Não sou do tipo de pessoa que futuramente vai olhar para trás e voltar correndo na inútil tentativa de corrigir erros, sejam eles meus ou não. Já diz o ditado, o que não tem remédio, remediado está.
Só acho comico o fato de que em um mês tantas coisas mudaram de uma forma ignorante, e simples até.
Por outro ponto de vista, estas férias foram interessantes por ter tido mais tempo para passar com amigos que pouco conhecia e que agora se colocam a meu lado como bons companheiros.
Conheci novos lugares e novas pessoas, conversei e troquei experiências, frequentei shows, festas e teatros, andei sozinho pela noite e passei por ruas diversas durante o dia.
Não fui para outras cidades, nem outros países e foi bom assim, pois pude me concentrar mais nas coisas ao meu redor, e ainda que este mês de férias tenha me mostrado coisas péssimas, também me trouxe momentos gratificantes.
Agora, pensando nesses últimos dias de férias, me pergunto. É necessário que a pessoa se jogue em estado de ócio para que comece a pensar em viver?

26 de abril de 2009

Chuva

Era só mais uma noite fria e chuvosa.
Meu café esfriava rapidamente, meus cigarros duravam uma tragada e as pessoas entravam e saiam aos montes pela porta de entrada.
Ou será que passei mais tempo que o normal sentado ali sozinho? Não sei, e não me importo.
A noite ia alta de céu coberto de nuvens espessas, ansiosas por derramar toda sua fúria sobre as paredes de concreto e telhados.
Era minha maldição toda aquela água prestes a cair, pois sabia que assim que meus pés tocassem a calçada toda aquela festa de raios e trovões começariam novamente.
Pela janela eu podia ver o céu, via alguns clarões rápidos, como quem recebe uma mensagem dizendo "é isso ai rapaz, estamos aqui só para você!"
Podia ter me abrigado naquele café de porta chamativa, mas não iria conseguir fugir por muito mais tempo, mas tudo bem, não me importava.
Meu chapéu repousava sobre o balcão, junto de minha capa e meu jornal. Mais uma xícara de café quente, um pão de queijo talvez, um cigarro e era tudo o que eu tinha.
Certa vez, um amigo em dificuldades, ao explicar o porque de algumas atitudes que não convém comentar, disse uma frase que tem sua razão.
A gente trabalha com o que tem.
E ali estava eu trabalhando com o que tinha de trocados na carteira e ideias pessimistas.
Ao meu redor as pessoas conversavam animadamente. Reviravoltas no trabalho, coisas de família, a vitória de um time qualquer, sobre a chuva que não parava.
Não me era estranho ir parar naquela cafeteria, tarde da noite, sozinho. Tantas foram as vezes em que me vi entregue ao silencio e aquele abraço gélido já estava virando um costume, então porque me preocupar?
A sineta da porta tocou chamando minha atenção, mas ao ver quem entrava minhas ultimas pontas de esperança foram consumidas sem propósito, e, além do mais, seria impossível tal pessoa aparecer, não apenas pela distancia que nos separava, mas sim pela falta de vontade.
Larguei as moedas sobre o balcão de madeira, chapéu, capa e jornal em punhos, me precipitei para a noite, para aquela que não me abandonava, e que já me recebia com a garoa.

25 de abril de 2009

Enterro

Ajustou a capa de chuva sobre o corpo.
Algumas gotas lhe escorriam pelas costas dando uma sensação de calafrio.
O caixão que via a sua frente tinha uma cor de madeira boa, daquelas que insetos demorariam uma eternidade para corroer para chegar até a carne fresca, mas a eternidade estava a favor dos vermes, pois o corpo presente no funeral não iria se impor as mordidas furiosas.
Era uma tarde de sexta feira, havia uma semana que a chuva não dava trégua, como se soubesse sobre o golpe misericordioso que o corpo inerte sofreria.
Todas as coisas, todos os momentos, todo e qualquer motivo convergia a aquele ponto, logo a lei da inevitabilidade se fez infalível novamente.
Olhava fixamente para o túmulo exposto, sem ligar para as palavras do padre a sua frene.
Pobre homem aquele de batina, pois mal sabia o passado daquele que era velado. Se soubesse sequer um terço da história daquele corpo mórbido, certamente recusaria oferecer o Pai Nosso e a Ave Maria.
Aquele maldito sendo enterrado ia direto para o inferno cumprimentar o demonio numa mesa posta para o chá da tarde.
Algumas gotas passavam pelo óculos redondo, acertando em cheio as lentes grossas, ainda que o chapéu estivesse no ângulo correto para a proteção.
Mas quem nesse mudo está protegido daquelas gotas de maldade que insistem em atacar os corpos desprevenidos? Que está plenamente seguro das gotas demoníacas que contornam o ser mais puro a ponto de plantar as sementes do mal, de forma a apenas aguardar que elas germinem e se tornem firmes o bastante para nunca mais serem arrancadas?
Aquele monte de carne em processo de deteriorização não significava mais nada, pois o mal já estava feito e só o tempo se encarregaria de levar as lembranças direto para o esquecimento.
O homem parado frente a cova lembrava palavras de sua mãe, dizendo que o que colhemos é exatamente o que plantamos, que o destino é imparcial, que não nos cabe decidir o que é bom ou ruim, que o futuro nada mais é que uma repetição do passado.
Uma pá de terra molhada foi lançada, um baque surdo foi a única resposta da caixa imóvel, a vida prosseguia frente a morte de outros e a única coisa que aquele homem parado na borda do túmulo poderia fazer é seguir em frente.
Sinal da cruz em respeito ao cadáver, um ultimo olhar, meia volta, passos decididos e a vida seguiria seu curso.

24 de abril de 2009

Tocar


Toco meu coração
como uma canção desesperada
através da bruma
que inebria
Toco meu coração
luvas de pelica
e que a dor não volte
para estragar o por do sol
Troco meus passos
fantasiado
pierro
pela fanfarra
Misturo minhas palavras
faço uma nuvem no céu
pela chuva
pelas trevas
E o que os olhos
não enxergam
sirva para amaciar
amansar a alma
Avante
tocar o intocável
mergulhar
sem mais ar
Ouço um grito
em meio a tempestade
mas firmo minha capa
já me molhei o bastante
O tempo vai passando
a chuva vai parando
toco minha vida
e meu coração

22 de abril de 2009

Contra Mão


Vamos trocar
o dito pelo não dito
o dito e o feito
o efeito
dois tiros para o alto
Retroceder é preciso
o tropeço era iminente
olhe para trás
são cem passos para um
Não precisa tentar entender
a banda ainda toca
são velhas canções
um solo interminável
Me de aqui mais um beijo
um abraço forte
me de as costas
e vá embora
Nunca me foi tão doce
um amanhecer solitário
os anos tornam a passar
eu não ligo
contra mão
do destino
Um samba
uma batida de ninar
mas não quero
as mesmas mentiras
Já estive no inferno
cadeira cativa
aviso aos navegantes
a fila é dura
Vamos trocar
esses truques velhos
pague as contas
e siga em frente
Me de aqui mais um olhar
um suspiro aliviado
me de um aceno
e um ponto final

21 de abril de 2009

Standby...

Chamem como quiserem. Azar, má sorte, destino cruel, jogo miserável onde o único perdedor é sempre aquele que não tem carta nenhuma a disposição... enfim, mudança terminada, mas nada tem dado muito certo.
Vamos começar pelos serviços prestados pela empresa Telefonica.
Eu tinha tudo planejado. Iria fazer a mudança do numero de telefone antigo para o apartamento novo uma semana antes de efetuar a mudança de residência, assim daria tempo suficiente para chegar lá e ter o telefone instalado e pronto para usar.
Resultado: falhou.
Hoje faz um mês e meio que me mudei e ainda estou sem telefone, sem internet e sem contato com o mundo cibernético fora de lan houses, o que me levou a um estresse, maior consumo de café, tempo perdido na rua, inicio de férias frustradas e assinatura dos serviços da cia NET. Até ai, tudo bem.
Agora vamos a nova residência.
Confortável, charmosa, árvores dentro de um condomínio fechado, vizinhos amáveis, tudo nos conformes, tirando um pequenino detalhe: leis obsessivas e rígidas demais para três rapazes.
Horários psicodélicos que restringem a mudança, proteção extrema para quem entra ou sai do condomínio, cameras para todos os lados, problemas para ligar o maldito gás (burocracia), seguranças que acham interessante ficar olhando pelo vitrô da sala enquanto fazemos performances magnificas no Guitar Hero e muito mais...
O agravante mesmo é o gás.
Veja bem, condomínios novos funcionam com sistema de gás para aquecimento da água no apartamento, portanto, se não tem gás, não tem chuveiro quente.
Imaginem ai, um mês de banho gelado, isso sem contar as escapadas para casas de amigos e familiares em busca de um banho quentinho.
Pode ser pior? Sim, sempre pode piorar!
O camarada que ia instalar a NET estava agendado para hoje de manhã, e ele veio no horário combinado, mas pelas leis do condomínio não podem ser executadas nenhum tipo de concerto, reparo, instalação ou visita para inspeção aos finais de semana e feriados. O cara mal encostou na portaria e foi mandado pra casa.
Isso quer dizer também que, caso a velha do apartamento do lado resolver ter um ataque do coração num feriado, os médicos não vão poder entrar no condomínio! Ha!
Outro probleminha é meu celular que parou de funcionar e me forçou a uma aquisição e mudança de plano, porém essa mudança de plano me força a ficar sem celular até depois de amanhã.
Além desse pequeno amontoado de problemas, tenho ainda vários outros que prefiro nem comentar para não tornar o momento mais delicado do que já está, portanto, abafa.
Sinto como se estivesse num daqueles momentos de standby forçado, economia de energia, e não tem nada que de pra fazer.
Mas faz parte, não é mesmo? Pra quem já está todo cagado, o que significa um peidinho?